sexta-feira, agosto 5

Uma situação qualquer

Não lembro se já contei essa história aqui. Acho que não. Na verdade tenho quase certeza que não. Então...

Uma situação qualquer
Ela acabara de sair do banho. Ainda com a toalha enrolada no corpo, ela se olhava no espelho semi-embaçado enquanto passava seu creme hidratante nas pernas.
Ele, dentro do box ainda, com o chuveiro ligado, todo ensaboado, nem prestava atenção aos movimentos que ela fazia ali, do lado.
- Sabe – ela disse frivolamente – eu adoro eles. Você sabe o quanto. Mas hoje não estava nem um pouco a fim de sair de casa. Tá muito quente. Eu vou ficar suando naquela sala. Se eles tivessem ar-condicionado, pelo menos.
- É, vamos passar um pouco de calor. Mas não é nada que uma cervejinha gelada não resolva. É até bom – com um sorrisinho no rosto, completou - assim todo mundo enche a cara e a reunião fica ainda mais divertida.
- Puta merda, você precisa beber para se divertir? – ela disse enquanto se desenrolava da toalha para passar o creme no resto do corpo.
- Ah, caralho! – ele disse girando a torneira que cessava o descer de água do chuveiro – Olha, não quer ir, tudo bem. – Ele pegou a toalha - Eu ligo para eles, falo que não estou me sentindo bem e a gente não vai. Por que se for para você ficar de mau humor, prefiro me isolar em casa. Vai passar o que no Telecine hoje, você sabe? – disse enquanto se sentava no vaso para enxugar os pés.
Ela parou de passar o creme. Olhou para ele e disse:
- Nossa, eu odeio – ela passou um pouco essa última palavra – quando você começa a ser irônico assim! Chega a me dar nos nervos. – Jogando a toalha por sobre o box.
- Sério?! – ele elevou um pouco o tom de sua voz, ainda enxugando os pés. E voltando ao tom normal, completou:

– Bom saber. Assim eu mudo para lhe agradar. Afinal, tudo aqui é sobre isso, não é? Agradar você?
Ela virou as costas e enquanto saia nua do banheiro, soltou, baixinho:
- Vai tomar no cú.
Ele não ouviu.
***
Duas horas depois, ele estava apertando a campainha do apartamento de um amigo da faculdade deles, onde a reunião ocorreria.
***
Cinco da manhã. Ele e ela estavam de um jeito que não dava para dizer quem estava mais bêbado.

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