quinta-feira, dezembro 30

A escuridão

....A cidade toda dormia. Eu não.
....Fiquei sentado o tempo inteiro em frente a janela, olhando a escuridão do céu, que era o reflexo do escuro que tinha no meu coração.
....Aos poucos, outras pessoas foram acordando, pessoas felizes, com o coração mais leve que o meu, mais claro que o meu. E o reflexo dos corações deles foi, aos poucos, ficando mais forte que o meu, e o céu foi clareando.
....Então fiquei sozinho ali, em frente aquela janela. Escuridão, somente no meu coração. Nem o céu mais queria saber de refletir a escuridão de meu coração.

Meditação

Aprendi, mês passado, que para meditar, basta vc estar completamente voltado para algo, seja esse algo o que for. Com essa informação, descobri que medito com uma certa frequência, quando sentado num ônibus, num trem ou num metrô qualquer, eu ouço meu walkman de olhos fechados e deixo a música tomar conta de mim. É uma delícia. Vc já experimentou? Claro que não é qualquer música que consegue me envolver dessa forma. Tem que ser uma música que faça meu cérebro trabalhar de alguma foram, ou várias (o que prefiro). Exemplos de bandas que conseguem isso, com letras bacanas, na qual você tem prestar atenção para entender, e músicas ricas em sons e qualidade são o Nação Zumbi, o Radiohead e o Los Hermanos.
Porém hj, no metrô do Rio, eu coloquei Lenine (Na pressão) no meu walkman. Devo antes dizer que adoro o CD citado. Ouço direto, mas nunca tinha "meditado" com ele. E hoje eu me deixei levar e viajei no som dele. Bom pra caralho!!! (desculpem a expressão).
Essa viagem, que a música me permite, é uma experiência única e indiscritível. É divino. Sempre me sinto renovado.
Dessa experiência de hoje, fica o seguinte belíssimo poema de Lenine:

A medida da paixão
É como se a gente não soubesse
Pra que lado foi a vida
Por que tanta solidão
E não é a dor que me entristece
É não ter uma saida
Nem medida na paixão

Foi, o amor se foi perdido
Foi tão distraido
Que nem me avisou
Foi, o amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou

É como se a gente presentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa afflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou medo de ficar
Vazio demais meu coração"

quarta-feira, dezembro 22

Saudades

É. Faz tempo.
Faz tempo que não passo por aqui.

Bateu a saudade.
Faz tempo que não dou um alô, não escrevo aqui. Espero que meu blog não tenha ficado com ciúmes do blog que criei com a Ela ou do meu texto ter sido publicado em um site bacana.
De qualquer forma, voltei. Estava com saudades de escrever aqui.
Pode parecer besteira isso, mas a verdade é que no Nós no Rio, uso outra linguagem, outro formato, outra inspiração. A mesma coisa em textos que escrevo quando tento fazer com que eles sejam publicados em algum site.
Aqui eu tenho procurado puxar uma veia mais poeta ou mais filosófica (se bem que acho que toda poesia tem muita filosofia e toda filosofia tem muita poesia) que eu sei que não tenho, mas insisto em buscar.
E para retomar, resolvi publicar o texto abaixo. Simples, básico, porém do qual admito gostar e que escrevi a um certo tempo, porém se faz muito atual:


"Descobri que tenho muito ainda a crescer para enfrentar esse mundo que é/está tão distorcido e diferente daquilo, acredito, deveria ser.
O humano é um animal extremamente meticuloso e promíscuo. Não há a menor possibilidade de se confiar em um ser humano.
Nunca confie em um. Nunca!
Você confiaria em você?
Se você diz que sim, precisa abrir os olhos, meu caro. Ninguém é completamente confiável e, sob determinadas circunstâncias, o ser humano é capaz de qualquer coisa para não prejudicar seu ideal, mesmo que seu ideal seja prejudicial a si mesmo. Você mesmo já deve, em algum momento da sua vida, ter tomado algumas atitudes que lhe prejudicavam, atitudes tomadas surpreendentemente por você, para você, mas que no fundo era necessário pois isso lhe faria atingir um algo qualquer que você buscava.
Então, tome cuidado!
Fique atento com os humanos, principalmente com você mesmo."

quinta-feira, dezembro 16

Cores

A camisa, de um azul cinza, veste meu corpo, minha alma cinza.
Caminho olhando o chão. Sobre mim paira um céu cinzento.
Cinzas de um cigarro varrem o chão já cinza.
Um carro cinza passa. O cinza do ar fazem meus olhos lacrimejar.
Meu mundo é cinza. É negro, é branco.
Nesse cinza cruel, meu telefone cinza toca um som metalizado.
Meu alô cinza vai para o outro lado.
Mas o que vem, de cinza nada tem.
Um suave alô, amável, uma flor.
É Ela, com sua vida colorida.
Ela, com seu colorido pincel, colore meu mundo.
E deixa meu coração vermelho de amor.

quarta-feira, dezembro 15

....Ainda não o conheço muito bem. Fomos apresentados na última segunda-feira e, aparentemente, houve um interesse mútuo. Já de cara, no aeroporto, ele tentou se mostrar parecido comigo. Isso realmente me cativou nele, pois temos idéias muito próximas acerca da mulher amada e a busca pela felicidade ao lado dela. Porém hoje, vindo para o serviço, descobri que, no campo literário, na forma como a mulher amada o faz sentir, o que ela representa a ele e como ela o impulsiona para a literatura, realmente é algo que me deixou boquiaberto, pois me pareceu, claramente, que ele contava, a mim, a minha própria história.
....A conversa de hoje foi curta pois o sono não permitiu maiores prolongamentos. Mas foi positiva.
....Se a história que ele conta não foi inspirada em mim e a mulher amada não é Ela, então realmente temos muito em comum. Justamente por isso não vejo a hora de me aprofundar no conhecimento sobre ele para ver até onde vai essa comunhão.
....Então, para quem quiser entender o que me impulsionou a estar aqui, no Rio, ao lado dEla, vá a uma biblíoteca ou uma livraria e leia o primeiro capítulo dele.
....Eu indico.
Sexus
Henry Miller
1949
Cia. das Letras
Tradução de Sergio Flaksman
Primeiro livro da trilogia "A crucificação rosada"

terça-feira, dezembro 14

Mudanças

....Então é isso?
....O ciclo ralmente acabou para o início de um novo e eu fico nesse meio, assim?
....Não sei como será, mas parece que algo de muito bom está para acontecer.
....Hoje, dia 14/dezembro/04 é o dia da mudança.
....Não! O dia foi ontem.
....Foi ontem que eu sai da Claro, no Brooklin, quase na Marginal Pinheiros, direto para Congonhas.
....Foi ontem que eu comprei, finalmente, Sexus, o livro tempestuoso de Henry Miller, e vi que a busca frenética pela mulher amada não é loucura exclusiva minha. Ele, olivro, deu ainda mais sentido a tudo.
....Foi ontem que o avião me deixou no Rio de Janeiro.
....Foi ontem que Ela preparou aquele jantar, com aquele vinho.
....Foi ontem que minha mala cheia de roupas encontrou um novo armário.
....Hoje é apenas o dia em que eu acordei carioca, mas sempre paulistano. Novos companheiros de trabalho nunca substituirão os antigos, os amigos.
....Nova casa, nova cama. Novo estado civil?
....Então é assim que vida muda? É assim a vida a dois?
....Não doeu, nem sangrou.
....Ou melhor, doeu e sangrou, mas não matou.


....Então é isso?
....Se sim, ótimo. Muito mais simples que parece. E gostoso. Muito gostoso.

segunda-feira, dezembro 13

Rascunhos

Numa folha de papel escrita a mão, datilografada ou impressa.
Numa tela de computador, num editor de texto, num bloco de notas ou num e-mail.
Se você começou a escrever, mas não finalizou.
Se planejou, mas ainda não chegou o fim.
Uma idéia na cabeça, ainda mal acabada.
Uma idéia posta em prática que ainda tem muito o que crescer.
Rascunhei no computador.
Alguém, por algum, motivo gostou.
Meu rascunho virou texto pronto para depois virar rascunho. E aí sim ficar pronto.
Meu texto agora está lá, rascunhado graças a Deus.
Acesse e veja meu nome rascunhado, prolongado e alterado.
Mas veja meu texto inteiro, pleno e completo.
www.rascunhos.com.br

sexta-feira, dezembro 10

O amadurecimento de uma fruta

....Presa a uma árvore desde seu primeiro momento de vida, a fruta um dia deve amadurecer.
....O que nos parece um processo natural, é, na verdade, algo dolorido, penoso e muito difícil para a fruta. Afinal, seu amadurecimento passa por fases complexas e, as vezes, indesejadas.
....Em um primeiro momento, ela, que nasceu como uma linda e perfumada flor, deve deixar suas pétalas caírem para se transformar numa saborosa e suculenta fruta. A mudança estética é também a mudança completa e radical da forma como os outros a vêem. Ela, a fruta, poderá levar um longo período até que aceite sua nova forma, mas quase sempre, viverá o resto de seus dias desejando voltar a ser uma flor.
....Passada essa primeira fase, e muitas vezes ainda não refeita da mudança, começa a fase da libertação. A fruta, quando realmente madura, deve sair de onde sempre esteve e ir para um lugar novo e desconhecido, cujo futuro não lhe é revelado. E aí, o que já parecia complicado, toma rumos ainda mais tortuosos. São muitas opções, porém nem todas seguras e agradáveis.
....É claro que vendo dessa forma, todos torcemos, principalmente a fruta, que sua queda seja amparada por alguém que fique embaixo da árvore a lhe segurar em macias mãos ou então que alguém simplesmente a tire da árvore, de forma macia, segura e gostosa, bem amparada.
....Mas e se ninguém ou nada lhe tirar da árvore de forma macia ou lhe segurar, amparando a queda? E se a árvore na qual ela se pendura fica sobre o cimento ou o asfalto? Então, ao amadurecer, a fruta cairá do alto de sua árvore para se esborrachar e estatelar no chão. Mas ela ainda pode estar a beira de um abismo e a queda da fruta pode então levar longos segundos até o total esmagamento, deixando o cenário mais doloroso e sofrido
....Claro, ela pode ter a sorte de estar sobre um campo macio, ter uma queda suave, ainda que ninguém a tome pelas mãos. Mas e se a terra embaixo for batida e seca?
....São tantas opções e tamanha complexidade que é inevitável o medo, a insegurança. Quem sabe até a depressão, a reclusão.
....O que podemos fazer? O que nos resta? Qual seria nossa obrigação?
....Nada. Nenhuma.
....Tudo é uma questão de escolha.
....Eu escolhi parar sob a árvore que tem a fruta mais bonita, doce e suculenta que alguém jamais pôde imaginar existir. A única fruta entre todos que ainda guarda sua porção flor: bela e cheirosa. Não uma simples fruta, e sim uma Fruta. Agora, Ela, a Fruta, está cada vez mais madura e Seu desprendimento da árvore é inevitável.
....Mas e Sua queda? É inevitável também?
....Não necessariamente. Estou me encaminhando o mais rápido que posso para debaixo da árvore. Ainda não cheguei lá, porém a Fruta já sabe que planejo segurá-La. Só que a verdade é que não quero apenas segurá-La. Quero subir na árvore para, com carinho, retirar Seu caule da árvore e trazer a Fruta para junto de mim. Quero descer da árvore com a Fruta em minhas mãos e em segurança. Quero que essa Fruta seja minha e de mais ninguém.
....Mas quero, acima de tudo, que a Fruta saiba que em mim ela pode achar a segurança que procura.

quinta-feira, dezembro 9

....A vida é o suco do limão.
....A ansiedade é a mão que segura a metade cortada do limão, espremendo com força para retirar seu suco.
....A angústia é sentir o suco desse limão lhe escorrer pela mão atingindo com ardor o corte.
....A tristeza é o suco desse limão amargo-passado em contato com a língua.
....A dor é o respingar do limão no olho aberto.
....O limão sem suco é o não.

sexta-feira, dezembro 3

....As vezes, ao respirar, me vem a dor. Uma dor aguda, abafada. Então, fiz pra Ela o poeminha abaixo, sem título.

Dói a distância.
Essa falta de você aqui.
Aqui em meus ouvidos, meus olhos
ou ao alcance de meu tato.
Porque você já faz parte de mim.
E lhe perder, ver-lhe partir
ou ver-lhe ficar me vendo partir
é um amputar.

quinta-feira, dezembro 2

Antítese

....Ele se sentou à frente dela. Estavam mesmo precisando conversar há tempos, mas não tinham coragem e ambos fugiam. Ele respirou fundo e disse, pousando sua mão sobre a dela:
....- Você é a pessoal mais agradável para se ter ao lado.
....- E tu, a mais irritante! - disse ela puxando a mão bruscamente
....- Você é tem o sorriso mais lindo que já vi.
....- E ninguém grita tanto quanto gritas!
....- Você contagia qualquer um com seu bom-humor.
....- E tu, com teu péssimo-humor!
....- Não consigo não pensar em você quando estou feliz.
....- Não consigo não ficar estressada quando em ti eu penso!
....- Seu beijo é o mais doce que já provei.
....- E o teu, tão sem graça, tão curto, tão sem paixão!
....- Seu olhar, meigo e pidão, me derruba.
....- Não consigo olhar pra ti, tamanha raiva que sinto!
....- Nunca amei tanto alguém quanto amo você.
....- Nunca senti ódio tamanho antes!
....- Seu cheiro, sua pele, seu toque.
....- Sinto asco de ti Não me toques!
....- Você me fará muita falta.
....- Minha liberdade...
....Ele, com lágrimas nos olhos e com a cabeça baixa, concluiu:
....- Mas apesar do que sinto, melhor nunca mais nos vermos, nos separarmos de vez.
....Ela se virou, segurou o rosto dele com carinho, olhou seus olhos e disse:
....- Mas apesar do que sinto, não suporto a idéia de viver longe de ti.

sexta-feira, novembro 26

Eu e o mar

....Acabei de decidir: não decidirei nada! Se o mar armou uma onda desse tamanho para mim, só para mim, para me pegar, me molhar, encharcar e tentar me afogar, esperarei aqui, sentado, ela me atingir. E que me atinja com força e com raiva, para eu lutar quando ela finalmente chegar. Porque para acabar comigo, coitada, ela ainda precisa de muito mais água.
....O engraçado foi a marola que chegou, com o Sol ardendo, molhando meus pés descalços, me refrescando, tentando me fazer crer que aquele mar todo era poder, mas era também submissão.
....O curioso é que aquele beijo molhado e salgado, gelado e refrescante em meus pés, não me conquistou, não me iludiu. Porque quem é feito pro mar, quem no mar se criou, quem no mar se feriu e curou todas as feridas na água desse mesmo mar, assim como eu, sabe muito bem que o mar não dá de graça.
Na verdade, e isso poucos sabem, o mar só dá para te conquistar, te chamar pra junto, pra dentro, pra depois te abocanhar, com uma onda desse tamanho que tenta me pegar. Só que eu, pra infelicidade do mar, não entrei na água. Ao senti-la em meus pés, não exitei. Olhei pro horizonte, onde o mar vira oceano e o oceano vira céu, e fixei lá meu olhar, esperando a onda se formar.

....Eu sabia que a espera poderia me cansar, então, antes que o cansaço chegasse, sentei nas areias úmidas, e fiquei assim, como estou agora. Tive tempo ainda pra brincar com um cachorro perdido que veio me cheirar e pedir carinho. Queria brincar, eu brinquei, esperando a onda chegar.
....Agora, lá vem ela. Eu estava certo novamente. A onda quer me pegar. Quer saber o que eu vou fazer. Quer me ver com medo. Quer que eu fuja, que eu lute, que eu brigue. Mas eu só sorrio. Eu só espero a onda me atingir

quarta-feira, novembro 24

Uma rápida observação

....Ela parou, sentou e por lá ficou. Parada, ela olhava o nada. Era como se algo a tivesse hipnotizado. Ou ela era o algo que estava ali para hipnotizar? Eu não sei ao certo, mas Deus, durante os quase cinco minutos em que ela olhou aquele ponto qualquer fixamente, eu olhei para aquela mulher. Olhos grandes, redondos, porém suaves e meigos. A pele bem morena, queimada de Sol, reluzia um bronze escuro. Se você ou qualquer pessoa me perguntasse qual a roupa que ela vestia, se era saia e até onde ela ia, se camisa, camiseta ou blusa de linha, eu não saberia lhe responder. Porque fixei o olhar naquele rosto, naquele olhar que fugia.
....De repente, do mesmo jeito que chegou, se levantou, deu as costas à praça e saiu andando o andar mais provocante que já vi.
....Ainda a vi por caminhar mais quinze metros antes de virar à esquina e desaparecer.
....Não sei seu nome e nunca saberei.
....Conheci seu rosto, mas já o esqueci.
....Não sei o cheiro que ela exalava, nem conheci seu sorriso.
....Também não sei porque fixei meu olhar nela por tanto tempo, enquanto minha cerveja esquentava.

domingo, novembro 21

Acertando o Tom

....Sábado. Preguiça. Sol. Rio de Janeiro.
....Ela propõe fazermos algo. Eu topo. Mas, se fosse para ser honesto, eu ficava dormindo. Só que as opções são interessantes e incluem uma incursão pelo CCBB-RJ ou pela Biblioteca Nacional, duas coisas que me interessam muito, mas muito mesmo. Por isso eu topo. "Mas começaremos pelo Pão de Açúcar", ela disse. Com direito a uma inédita, pelo menos para mim, volta no bondinho (ou seria Bondinho?).
....Então, vamos. Pé pra fora de casa. E o Sol dá as caras. Sorte que o ônibus tem ar condicionado. Não há nada como um ônibus vazio, confortável e com aquele ar condicionado gelado-congelante (como no polo norte), que pingava água pra tudo quanto é lado.
....Mas temos que passar pelo purgatório para chegarmos no Paraiso, né? Pois é...
....Chegamos. Não no Paraiso e muito menos no bondinho, mas, mas no ponto onde deveríamos saltar do Polo norte diretamente no Sol. Era quase em frente ao Canecão e um pouco antes da UFRJ. Ou seja, vamos a pé até o bondinho (para quem não conhece, dá quase meia hora de caminhada). Íamos. E íamos. Reaquecendo o corpo, obstinados, caminhávamos em direção ao bondinho. Caminhávamos.
"TOM ZÉ na UFRJ as 15h00 - Grátis!".
....No meio do caminho, de surpresa e de presente, uma faixa. Era mais uma vez a gravadora Trama e seu projeto Trama Universitário - o mesmo projeto que há duas semana me presenteou com o show do Nação Zumbi em São Paulo....Por um instante eu senti uma faca me atravesar. Naquela paranóia, ou manía de perseguição, pensei que o show já tinha sido ou ía ser numa data impossível para nós. Essa sensação durou exatos um quilhentésimo de segundo.
....O show era ali, agora!
....Ai, ai.
....Olhamo-nos assustados, surpresos e exaltados com a novidade. Olhamos, sincronizadamente, nossos relógio. Era exatamente quatorze horas e cinquenta e cinco minutos. Parecia filme, com final feliz.
....Então Ela propõe:
....- Pão de Açucar ou Tom Zé?
....- Ah, o Pão de Açucar pode ficar pra amanhã, não?
....Ela sorriu. Era o sim.
....É simplesmente perfeito ter uma companheira-musa com idéias e gostos alinhados ao meu. É um sonho.
....Demos a volta no quarteirão e entramos no campus da universidade. Chegamos a frente do palco e o lugar estava razoavelmente vazio. A espera durou mais de meia hora.

....Quando ele entrou no palco, apresentando os integrantes da banda um a um, a mágia se fez. De repente, o lugar foi tomado por universitários estranhos. Sim, estranhos - desculpem, mas sinto que há uma necessidade estranha os estudantes de universidades públicas em quebrar a barreira do normal, o que não é nada, abslutamente nada ruim.
....Sobre o show, nem resta tanto a dizer.
....Nada como um baiano inteligente, convertido em paulista, fazendo show pra cariocas. Diferente de pessoas sem personalidade (lê-se Rita Lee), Tom Zé destilou, sem medo, seu sutil e inteligente veneno baiano-paulista sobre e contra os cariocas. A todo momento exaltando minha, nossa cidade, e mal-dizendo a deles. A todo momento insinuando que nós somos mais inteligentes que eles.
....A inteligência e o sublime era tal que o público, repleto de cariocas convíctos, vibravam a cada argumento dele, o que só fazia comprovar seu argumento.
....Nem vale a pena dizer sobre uma roda de ciranda que se abriu ao final do show, no meio da platéia em transe. Ou das pessoas se comprimentando com beijos na boca.
....Aqui só cabe enaltecer ainda mais Tom.
....Ou, para melhor ilustrar, nas palvras D'Ela:
....- Nossa! Eu até gostava dele, mas depois desse show virei fã!

sexta-feira, novembro 12

Paraíso

....Hoje ouvi alguém dizer que perdeu o Paraíso, mas ganhou a inteligência. Ele, claro, se referia ao Paraíso de Deus, bíblico, perdido por Adão e Eva. Ele quis dizer que com a saída do Paraíso por parte de Adão e Eva, o ser humano pôde evoluir mais e melhor. Eles quis criticar a Igreja.
....Concordo com ele.
....Mas isso me fez pensar, afinal, Adão e Eva nos tiraram do Paraíso divino. E o que nos sobrou? Não temos mesmo mais direto a paraíso nenhum? O que é hoje o paraíso?

....Tenho duas amigas bonitas que trabalham em uma empresa multi-nacional razoavelmente bacana, em um bairro classe-média-alta da maior cidade do país. O salário delas nunca atrasou e os benefícios estão sempre em dia. Estão na empresa há tempo suficiente para todos saberem que são essenciais nela. Conquistaram o respeito e a admiração de todos, seja pelo lado profissional ou pelo pessoal. O ambiente - lê-se colegas e amigos de trabalho - é, de um modo geral, ótimo. Ao lado delas, só grandes companheiros ou amigos. Saem para aquela sagrada cervejinha com quase toda semana e, nas férias, sentem falta do pessoal do escritório.
....Para coroar, as duas namoram com caras bonitos, inteligentes, divertidos e que, facilmente, cativam todos.
....Elas são tão amigas uma da outra que estão comprando um apartamento no mesmo prédio.
....É a típica trajetória de uma vida de sucesso pessoal e profissional.
....Qual mulher não queria viver a vida que elas vivem? Que homem não queria ser tão bem sucedido?
....Olhando assim, de fora, realmente dá uma inveja incrível. Mesmo que você tenha sua parcela nessa conquista, você, sem perceber, pode invejá-las.
....Mas, esperem um pouco. Cheguem mais perto e conversem com elas. Seja delas aquilo que qualquer pessoa precisa e que elas merecem ter: um amigo de verdade. Não tenha medo do poder delas.
....Porque é só chegando mais perto que você percebe que essa história toda têm um lado difícil e complicado: a vida profissional delas não é a aquilo que elas sempre pediram a Deus. A ponto de ambas desejarem outra coisa.
....Aí, eu paro e me pergunto: quem é realmente dono do sucesso?
....Tenho outras duas amigas bonitas que moram numa cidade litorânea há alguns anos. Vivem na praia, cercadas de seus amigos. Também saem pra beber regularmente e também se divertem muito. O salário não é dos mais altos e o emprego não é em uma grande companhia multi-nacional. Mas e daí? Elas, pelo menos, não tem nenhuma gerente se achando o centro do universo que as humilhem.
....Talvez o grande segredo do sucesso seja saber seus limites. Se as duas primeiras aguentam o que aguentam, talvez seja porque realmente são mulheres de sucesso.
....Mas e o paraíso?
....Nos dois casos, o maior sucesso delas quatro é viver cercada por grandes amigos, que as divertem muito, onde a relação de amor é recíproca.
....O paraíso não é eterno, nem constante, assim como não existe felicidade, e sim alegria. O paraíso ora vai, ora vem. E quando vai, nos deixa ora no purgatório, ora no inferno.
....Talvez o paraíso não seja um lugar, nem um estado de espírito.
....Eu não preciso morrer para ser levado ao paraíso, ao purgatório ou ao inferno.
....Já os conheço muito bem.
....O inferno e o purgatório, todos têm os seus.
....O paraíso são os outros.

A frase "Eu perdi o Paraíso, mas ganhei inteligência" é dita por Zeca Baleiro na música "Piercing", lançada no disco "Vô Imbolá", lançado em '99

quinta-feira, novembro 4

....Minha mulher, se é que posso chamá-la assim, é uma ex-estudante de Letras e amante de literatura. Nesse balaio, que é a faculdade de Letras, conheço algumas pessoas que também são apaixonadas por, formadas ou não. Coincidentemente, todas essas pessoas são inteligentes, cultas, divertidas. Coincidentemente, todas mulheres + o Nilton (tirem suas conclusões).
....E, ainda nesse balaio, tem uma corinthiana chata que eu adoro e que me mandou o e-mail abaixo o qual reproduzo aqui na integra.

...."Não sei se vcs conhecem este escritor, mas ele é maravilhoso e, neste dia de chuva, nada melhor que palavras doces para alegrar o nosso dia.
......."Somos donos de nossos atos
........Mas não somos donos de nossos sentimentos;
........Somos culpados pelo que fazemos,
........Mas não somos culpados pelo que sentimos;
........Podemos prometer atos,
........Não podemos prometer sentimentos...
........Atos são pássaros engaiolados,
........Sentimentos são pássaros em vôo".
........(Rubem Alves) "

....Valeu, Van.

terça-feira, novembro 2

Tecnologia existe

....É realmente curioso ver que um ser humano sentado, dois dias seguidos, em pleno feriado, em frente a um computador, dentro de um prédio totalmente fechado, trabalhando arduamente, até ficar completamente estressado, pensa, durante todo o tempo em que está ali, numa fuga, numa forma de relaxar, de fugir daquilo, sendo que sua fuga, sua forma de relaxamento, principalmente no primeiro dos dois dias, quando o tempo lá fora é chuvoso e tedioso, consiste justamente em fazer algo qualquer em frente ao mesmo computador, seja navegando na internet, seja jogando, seja escrevendo ou seja cuidando de seu blog.
....Curioso também é, nesse momento, sentir a necessidade de atualizar seu blog, inserindo qualquer coisa, qualquer texto, e isso também lhe estressar, também lhe pressionar, como o trabalho. É curioso sentir que o blog deixou de ser, naquela momento apenas, uma diversão, um relaxamento, mas também uma forma de trabalho, de obrigação e isso lhe tirar completamente a vontade de sequer abrir a página para ver alguma coisa nele, querendo mandar o blog pra puta que o pariu, querendo finalmente sair logo dali, perdendo a vontade de escrever, perdendo o desejo de pensar. É ainda mais curioso quando ao finalmente conseguir deixar o prédio e sentir a brisa, o vento na cara, respirar o ar úmido que sai do chão, sua mente começa a funcionar, pensando em coisas para escrever, em textos para publicar no blog, como esse aqui, cuja idéia nasceu exatamente na estação de trem, quando esperava a condução que o levaria para casa ao final do primeiro dia, e pensar, já novamente tenso, que não pode esquecer esse texto, que está gravando em sua memória, para quando sentar em frente ao computador, poder, finalmente, colocar tudo em palavras.
....Relaxar...
....Da onde vem essa palavra? Para onde ela nos leva? Por que ela, a palavra, e ele, esse ser humano complicado, não conseguem andar juntos com facilidade? Como fazer para desligar uma mente que não para de trabalhar, criando pensamentos absurdos, que cada vez mais. Ele a encontrou finalmente, mais a noite, na casa de duas pessoas que ama, onde a conversa flui de forma tão gostosa, tão livre. Lá a mente dele se expande sem medo, lá ele se liberta e relaxa.
....Mas na manhã seguinte ele deve voltar para aquele prédio fechado, claustrofóbico.
....E lá está ele, novamente sentado a frente do mesmo computador. Só que, dessa vez, o Sol lá fora arde forte.
....Curioso realmente ver que um ser humano sentado, dois dias seguidos, em pleno feriado, em frente a um computador, dentro de um prédio totalmente fechado, trabalhando arduamente, até ficar completamente estressado, pensa, durante todo o tempo em que está ali, numa fuga, numa forma de relaxar, de fugir daquilo.

sexta-feira, outubro 29

Devaneios

Lá em cima, no palco, três tambores dão a gravidade da situação. Acompanhados por três percurcionistas e um baterista genial, hipnotizam o público com seu ritmo.
O baixista infiltra seu som à percursão.
O guitarrista, mal intencionado, se aproveita do transe e descarrega frases psicodélicas em sua guitarra elevando o público. Ele só pára quando ele mesmo entra em transe, provocado por scratchs muito bem aplicados do dj, aumentando o clima alucinógeno na platéia.
A platéia, com a mente ativa, focada no presente, parece carregada alguns centímetros acima do chão. E flutuam.

Mesmo os mais exaltados flutuavam, como eu, que aproveitavam para liberar uma boa porção de seus hormônios masculinos, em rodas que mais pareciam uma briga, mas que eram compostas por colegas, onde o clima de amizade, por incrível que pareça, predominou com homens suados se cumprimentando ao fim de cada alavancada musical.
E o público era cada vez mais estimulado, única e exclusivamente, pelos gritos do peixe cantor.
A energia positiva que bombava o lugar e enchia os olhos e coração, era emanada do palco e reverberava, com força, na platéia, causando um efeito cíclico incontrolável.
Assim foi por quase duas horas. Os que se despiram de todos os (bons) conceitos pré-estabelidos e mergulharam fundo, de cabeça, no maracatu psicodélico da Nação Zumbi, emergiram já secos, com suas almas lavadas. O maracatu ainda carregou seus corpos por mais algum tempo.
O maracatu era de todos.
E todos tiveram a certeza que o aquele maracatu, o nosso maracatu, pesa uma tonelada.
Curioso era, no meio da multidão, escondido em roupas de uma homem alto e desengonçado, um boneco de Olinda perdido em violentas rodas.
O carnaval de Recife passou ontem por São Paulo. Foi para poucos felizardos. Foi, para muitos, felicidade.

Neste feriado, com certeza, aqueles que lá estiveram, ao tomar uma cerveja antes do almoço, ficarão, sem dúvida, pensando melhor.


"No caminho é que se vê, a praia melhor pra ficar..."
Letra de Francisco de Assis (Chico Science) em 'A Praieira', música de Chico Science e Nação Zumbi gravada no disco 'Da Lama ao Caos' de '94.

Obs.: Um forte abraço a todos os grandes amigos com qual Pernambuco, de uma forma ou de outra, me presentou, como Fabio Reis, Filipe W., Marcelo Zenga, Kátia e Daniela.



... Zumbi

Maracatu psicodélico/ Capoeira da Pesada!

Um satélite na cabeça

Como um pássaro o tempo voa
A procura do exato momento
Onde o que você pode fazer fosse agora
Com as roupas sujas de lama
Porque o barro arrudeia o mundo
E a TV não tem olhos pra ver
Eu sou como aquele boneco
Que apareceu no dia na fogueira
E controla seu próprio satélite
Andando por cima da terra
Conquistando o seu próprio espaço
É onde você pode estar agora

Letra de Francisco de Assis (Chico Science) em música de Chico Science e Nação Zumbi gravada no disco Afrociberdelia de '96.

Nação...

MEU MARACATU PESA UMA TONELADA!!!!!!!

quarta-feira, outubro 27

Só elogios

Essa aqui tem dono. Ou melhor, dona.

Como você pode ver a sua direita, eu indico - além do ÓTIMO flog do meu querido cunhado, amigo, irmão Fábio (www.fotolog.net/fabio_logo) - um site sobre literatura e afins que eu adoro muito, o Capitu.
Navegando nele, vi uma ótima materia escrita pela multi-cultural e excelente Ana Laura Diniz, a qual reproduzo abaixo o primeiro parágrafo. Dedico esta matéria à ela, Rebecca, mulher que é minha música, musa única, mulher mãe de meus filhos*.
Ela, a matéria, fala sobre o genial Manu Chao.

"Zapatista dionisíaco, ex-punk, neto de velho militante antifranquista espanhol, filho de um conhecido escritor espanhol, parisiense atípico - sem muito orgulho, deixou o local porque não se acostumava ao tratamento dispensado aos clandestinos africanos na capital francesa. Divertido, gozador e sério, ao mesmo tempo, precisava de um lugar mais calmo para morar. Escolheu Barcelona porque acredita ser o Rio de Janeiro da Europa. Magro, ágil e bom de caminhada, quando no Brasil, faz passeios incansáveis pelas praças e ruelas da Lapa, no Rio de Janeiro, onde já viveu um mês no burburinho de Santa Tereza. Dono de um molejo sedutor, fã ardoroso de capoeira e de repentes nordestinos, bebe cachaça misturado com café amargo a qualquer hora do dia. Foi assim que o conheci num boteco carioca - com calça de algodão, regata e de “as legítimas” no pé. Também gosta de tomar tequila na Bastilha e aguardente de uva na Galícia. "

Quer ler o resto? Quer ver a foto dele (eu sei que você acha ele bonito, Mein Liebe)?
Acesse:
http://win4nt293.digiweb.com.br/P.asp?p=9,10,2004,2668

(*) Frase retirada da música "Ela", de Gilberto Gil. A música que está no disco Refazenda de '75

A Felicidade, a alegria e o sorriso.

Na infindável procura pela felicidade,
nós rodamos atrás de alguma pessoa
ou rodamos vagando pela cidade.
Mas rodamos demais e rodamos a toa.

A felicidade (se ela existe mesmo)
não está em lugar algum lá fora.
Nem adianta mais procurar a esmo.
Portanto, pare de procurar agora!

A felicidade é só uma grande farsa
vendida a nós pela tv e pelo cinema.
O sorriso na cara é uma coisa falsa
que tenta deixar a vida mais amena.

O sorriso que sempre exibimos, aliás,
é apenas um subterfúgio que usamos
para tentar deixar a tristeza pra atrás.
O mais triste é que o usamos por anos.

Portanto, não se iluda, caro amigo.
E também não se sinta assim tão mal.
A tristeza é bela e serve como abrigo,
que tenta lhe impedir de ser tão boçal.

Isso mesmo! A tristeza é uma poesia,
talvez a única que temos realmente,
que mora no coração, junto da alegria.
Ela refina e lapida a alegria da gente.

Então, não se sinta mal pela tristeza.
Não é só você quem a sente sempre,
ela está sempre do coração da gente.
Viu? Nada mal. Isso é, até, uma beleza.

Um poema bobo e mal feito que escrevi assim, sem pretenção de nada, mas me convencer que esse sentimento é comum a todos, normal e, de alguma forma, saudavel.


terça-feira, outubro 26

Ela

....As pernas bambearam e ela parou. Arfava. Esbaforida. Se quisesse, se ao menos tentasse, nem conseguiria articular as palavras. Sentia o suor lhe percorrendo, doce e suavemente, as têmporas. O tronco inclinara para frente sem que ela pudesse controlar. Os joelhos, levemente dobrados, serviam de apoio para as mãos, que por sua vez eram apenas a base que tentava evitar que o tronco se curvasse ainda mais. Sentia a maresia bater refrescantemente em seu rosto.
....- A senhora...
....Ela virou, paulatinamente, o corpo. O mínimo para que conseguisse enxergar quem a chamava - cabe aqui dizer que a curiosidade feminina foi o principal impulso para que ela conseguisse se mexer a fim de ver quem falava com ela.
....-...deixou cair isso? - ele completou. Manteve-se distante dela pelo menos um metro, ele falava com o cuidado de quem procura abrir uma flor sem machucar as pétalas. Em suas mãos, O salto da sandalha que ela usava.
....Lentamente, ela deixou suas pálpebras caírem por sobre seus os olhos. Um sutilíssimo abano com a cabeça. Não tentou sorrir. Não conseguiria. Seu salto quebrara um pouco antes de parar. Foi o limite. Tinha corrido quase uma hora, sem parar e seu corpo clamava por piedade. E foi lentamente também que ela contraiu suas pálpebras de volta, deixando à mostra seus negros olhos para, então, devolver o corpo a posição anterior, pendendo pra frente.
....Ele se aproximou mais um pouco. Não a tocou. Colocou sua cabeça numa altura próxima na qual a dela estava e disse, quase num cochicho:
....- Tá tudo bem com a senhora? Quer ajuda? Eu posso lhe conseguir um copo d'água, lhe ajudar a sentar.
....De onde ele estava agora, mais próximo a ela, pode sentir, apesar do suor dela, o agradável cheiro do perfume que ela usava. Inegável que tanta preocupação era uma forma de vê-la de perto, descobrir seu nome e, quem sabe, até conseguir o telefone dela.
....A resposta dela, olhando para o chão, foi o silêncio.
....Ele entendeu que aquilo pudesse ser um sim. Cuidadosamente, deixou o salto da sandália no chão à frente dela. Olhou ao redor a procura de um bar ou um quiosque a beira-mar. Lá estava, a aproximadamente vinte metros, o bar. Foi até ele numa rápida corrida a fim de conseguir um copo com água. Quem sabe uma cadeira. Não viu o taxi se aproximar.
....Enquanto ele chegava ao bar, ela chegava no taxi. Quando ele pegou o copo com água, ela entrou no taxi. E, quando ele se virou, viu o taxi, com ela dentro, sair a andar pela avenida.
....Nem um obrigado.
....Num gole só, bebeu uma das águas mais amargas que experimentou.


Mini conto escrito por mim numa tarde qualquer.

segunda-feira, outubro 25

Toquinho & Vinícius

Eu acho, humildemente, que tinha um grupo específico, formado por quatro pessoas geniais, que, individualmente, produziram poemas, músicas ou poemas musicados, se preferir, da mais fina e bela forma que um dia algum humano sonhou em fazer. Vez ou outra, como que para mostrar para nós mortais que o segredo de tudo é a união humilde, eles faziam algumas parcerias. Dentre os quatro, que são Tom, Chico, Vinícius e Toquinho, eu classifico que:
- o mais poeta era Vinícius
- o mais erudito era o Tom
- o mais musical é o Toquinho
- a síntese é o Chico
Não a toa, acho Chico o melhor individualmente, pois sintetizava um pouco de cada. Porém ele nunca foi o melhor em algo, mas sim o mais completo. Se Toquinho, que é mais musical que todos, por exemplo, se juntava com Chico, saia uma música fantástica. Mas foi com Vinícius que Toquinho melhor se complementou. Toquinho&Vinícius, escrito assim pq assim o eram, uma coisa só, fizeram coisas que ao meu ouvido, faz arrepiar o corpo e encher de lágrima os olhos. Tocam a fundo o coração. Um exemplo disso é uma música cuja letra copio abaixo. A música e a letra são de Toquinho, mas foi gravada em parceria com Vinícius. O resultado final é maravilhoso. Já a versão solo de Toquinho para essa gravação - vejam que música e letra são de Toquinho - tem um que de "tá faltando algo". E falta mesmo. Falta Vinícius.

"Eu que andava nessa escuridão
De repente foi me acontecer
Me roubou o sono e a solidão
Me mostrou o que eu temia ver
Sem pedir licença nem perdão
Veio louca pra me enlouquecer

Vou dormir querendo despertar
Pra depois de novo conviver
Com essa luz que veio me habitar
Com esse fogo que me faz arder
Me dá medo, vem me encorajar
Fatalmente me fará sofrer

Ando escravo da alegria
Hoje em dia, minha gente
Isso não é normal
Se o amor é fantasia
Eu me encontro ultimamente
Em pleno carnaval
"

Ciclo

Tudo é um ciclo.
Tudo nasce.
E todo nascimento é algo prazeroso e lindo. É alegre. É Divino.
Mas tudo morre.
Nada é infinito, imutável.
Fingimos que não, que podemos controlar a vida ou o ciclo de algo, sendo que isso só nos faz aumentar a dor quando chega, finalmente, o inevitável momento da morte.
O segundo, a hora, o mês. Nada é eterno. Todo ciclo tem um fim. A escola, os amigos, o trabalho, os colegas, tudo um dia muda, deixando só a memória de uma felicidade distante.
O amor também é assim. Nenhum amor é infinito. nenhuma amor é eterno.
Então, o segredo da vida, qual é?
Devemos ver um nascimento e já saber de sua morte, lembrar sempre dela durante todo o ciclo de vida daquilo que nasceu. Mas como devemos enfrentar esse fato?
Curtindo ao máximo cada segundo de prazer que o novo ciclo lhe proporciona e aproveitar enquanto o ciclo não morre?
Ou devemos pisar em ovos, ser reticente, não nos entregar para não sofrer?
Infelizmente, costumo mergulhar de cabeça num ciclo, curtindo ao máximo cada momento. Porém isso me faz 'curtir' sua morte de forma ainda mais intensa.
Mas, caralho, as vezes eu queria ser mais reticente. Porque, por Deus, não agüento mais tantos fins trágicos em tantos ciclos que nasceram e que já não tenho mais, nem nunca terei ou que, talvez, na verdade, nunca tive.

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Versos de Carlos Drummond de Andrade originalmente publicados no livro "Sentimento do Mundo", Irmãos Pongetti - Rio de Janeiro, 1940.

sexta-feira, outubro 22

Pensamento do dia

"A felicidade precisa da tristeza. Não a tristeza profunda e desanimadora, mas uma tristeza em memória, uma suave melancolia. Sem a tristeza, a melancolia, não há felicidade plena. Podemos até ter noção de felicidade, mas para ser feliz mesmo, aquela felicidade bela e pura, é necessário um pouquinho de melancolia poética, em lembrança, no coração. A melancolia em lembrança é a ferramenta que lapida a felicidade."

Um insigth que tive não lembro quando, e que sempre volta a tona e cai muito bem.

Será?

Essa noite eu estive pensando se eu realmente darei a devida atenção a esse blog.
A resposta, infelizmente, a gente só saberá no futuro.
Prevejo que, um dia, eu o acabarei deixando de lado, mas me esforçarei para que isso não aconteça.
Não sei porquê, mas, de alguma forma, isso me faz lembrar Fiodor M. Dostoievski.

Aliás, leiam. Todos devem ler um livro dele.
Quem nunca leu, deve começar por 'Memórias do Subsolo'.
Indico a edição da Editora 34, com um prefácio magnífico.

quarta-feira, outubro 20

Benvindo

Cheguei, finalmente.
Mas cheguei só por chegar, só pra dizer que existo. A brincadeira, pra mim, está só começando.

Então, comecemos.
Pelo começo, claro. Bem-vindo.
Não sei ao certo ainda se esse Bem-vindo é pra quem.
Se para você, que chegou aqui ou se para mim, que chego agora.
Ainda tenho muito o que fazer por aqui.
Isso ainda não tem a minha cara, tenho que ajeitar esse template. Tenho que ter mais tempo.
Mas aos poucos eu vou acertando as coisas.
O mais importante aqui é que, quem sabe agora, você consiga, finalmente, ler um beck.

Obs.: Impossível não pensar em Mutantes ao escrever Benvindo.