quarta-feira, janeiro 4

Amor


    Ela: “Diga que me ama?”
    Ele: “Não. Não posso.”
    Ela: “Por quê?”
    Ele: “Gosto de você, muito, e não consigo mentir para você.”
    Ela: “Mentira!”
    Ele: “Por quê?”
    Ela: “Porque se gostasse mesmo de mim tanto assim, diria que me ama só para me ver sorrir. Você não gosta de me ver sorri?”
    Ele: “Desculpe, eu...”
    Ela: “Não.”
    Ele: “Não o quê?”
    Ela: “Não desculpo.”
    Ele: “Ah, não faça assim.”
    Ela: “Ué! Você não quer me dizer que me ama e eu ainda tenho que desculpar?”
    Ele: “Está bem, está certo, eu entendo, é seu direito.”
    Ela: “Por que você mente?”
    Ele: “Como?”
    Ela: “Por que você mente? Diga que me ama!”
    Ele: “Já disse, não posso.”
    Ela: “Você não gosta de me ver sorrir?”
    Ele: “Claro!”
    Ela: “E por que não quer me fazer feliz?”
    Ele: “Não é isso...”
    Ela: “Você não gosta de mim?”
    Ele: “Você sabe que gosto.”
    Ela: “Então?”
    Ele: “O quê?”
    Ela: “Prove! Prove que gosta de mim!”
    Ele: “Como? Não posso...”
    Ela: “Ah, ‘não posso’, ‘não posso’, ‘não posso’. Que saco! Se gosta de mim, se gosta de me ver sorrir, faça-me feliz, minta para mim e diga que me ama!”
    Ele: “Não posso!”
    Ela: “E por que não pode?”
    Ele: “Não quero mentir para você.”
    Ela: “Mas eu não ligo. Minta para mim!”
    Ele: “Desculpe...”
    Ela: “Já disse, não desculpo!”
    Ele: “Tudo bem, tá certo, mas tente entender...”
    Ela: “Eu entendo: você não quer me dizer que me ama porque tem medo.”
    Ele: “É, não quero te iludir.”
    Ela: “Ah, para! Você sabe que não é isso.”
    Ele: “Não?”
    Ela: “Não. Tem medo de dizer que ama porque tem medo de que descobrir que é verdade.”
    Ele: “Como?”
    Ela: “Você me ama, eu sei, todo mundo sabe. Parece que só você não sabe. Aí que você tem medo de dizer que me ama e, assim, descobrir o quanto me ama e depois sofrer por isso.”
    Ele: “Claro que não!”
    Ela: “Não? Então prove.”
    Ele: “Provar o que?”
    Ela: “Que não me ama.”
    Ele: “Como?”
    Ela: “Não sei, se vire! Quem não me ama é você.”
    Ele: “Não sei, não posso.”
    Ela: “Não pode?”
    Ele: “É, não posso! Não posso provar que não te amo!”
    Ela: “Sabia! Você me ama!”
    Ele: “Não é isso! Você sabe...”
    Ela: “Tudo bem, não tem problema.”
    Ele: “Não?”
    Ela: “Não precisa admitir para mim. Só para você. Você precisava saber que me ama.”
    Ele: “Mas eu não te amo.”
    Ela: “Ah, lá vamos nós mais uma vez...”

segunda-feira, janeiro 2

Em cárcere


    Há um mês, estou mantendo uma mulher encarcerada e amarrada aqui no meu sótão com vista para o mar. Ela é linda, tem um sotaque delicioso, uma risada divertidíssima, olhos espetaculares e os mais perfeitos seios que já vi. Ela é tão incrível que eu levaria dias só para descrevê-la. Tão incrível que no instante em que a vi eu me apaixonei completamente. Por isso eu a trouxe para cá e a amarrei.
    Não me julguem mal. Eu não sou um sujeito ruim. Pelo contrário. Sou bom e sensato. Por isso eu a deixo com total liberdade para fazer o que bem quiser ali. No sótão, ela tem acesso à internet, está presente em todas as redes sociais, possui uma vasta biblioteca, porque ela ama ler, tem cerveja gelada sempre à mão e, principalmente, total liberdade para receber amigos e amigas. A ideia é ser tão bom que ela desenvolva uma espécie de síndrome de Estolcomo e perceba que eu sou o cara ideal para ela passar o resto de sua vida ao lado.
    Por enquanto, tem dado certo.