terça-feira, março 21

Casamentos

Faz trinta anos que casei com a Lurdinha. Trinta anos! Completados hoje.
Trinta anos!
O curioso é que, mesmo casados há trinta anos, mais os dois meses de namoro que antecederam ao casamento, nenhum dos familiares de Lurdinha falam conosco. Aliás, nunca falaram. Arrepiam-se, até, quando nosso nome é pronunciado. Apenas os pais de Lurdinha ainda nos vêem. Nem a irmã dela fala mais com ela.
E tudo por um erro fatal que cometi. Erro besta. Erro estúpido: casei sem conhecer os familiares da noiva. Mas só não os conheci porque todos da família, exceto pais, moravam no interior paulista.
Afinal, apaixonado, encantado, amando, decidi casar com aquela que era a mulher mais linda e gostosa (e bote gostosa nisso, aliás) com apenas três meses de relacionamento. Isso só foi possível porque fizemos faculdade juntos, durante cinco anos, antes de o namoro começar. Aliás, devo dizer, o namoro só não começou antes porque ela tinha um namorado qualquer. Mas foi só ela terminar o namoro que dia seguinte eu estava lá, boca-na-boca com ela. Não perdi tempo.
E, como já disse, também não perdi tempo em relação ao casamento. Fui a casa dela, conheci os pais e anunciei o matrimônio, o que gerou exaltadas discussões com o pai, pois não queria ceder sua “santa” filha para alguém que ele mal conhecera.
Bom, o que importa aqui é que o convenci. Marcada a data, fizeram-se os convites e menos de mês depois estava eu ao altar. Do altar, para o salão paroquial, onde os noivos foram cumprimentados. E aí começou toda a merda.
Durante os cumprimentos pós-matrimoniais eu finalmente tive a oportunidade de conhecer a família da noiva. E descobri o trágico: minha esposa, apesar de linda, de deliciosa, e tudo mais, era, por mais incrível que isso possa parecer, a mais feiazinha entre todas as primas. E bote primas nisso. Eram nove, no total. Nove! Uma mais gostosa, mais bonita, mais deliciosa que a outra. Era uma guerra em família. Eu fiquei perdido, perdido, perdido. O pior de tudo foi que, além da delicia visual que eu tinha ali, no salão paroquial, as primas, empolgadas com o casório da prima da capital, com um moço bonitão (modéstia eu tenho, mas tenho consciência também, afinal já fui modelo, peralá!), me deram os cumprimentos mais apertados, quentes e intensos da festa.
Foi ali, naqueles cumprimentos entusiasmados, que decidi: casei com a prima errada. E tomei uma decisão óbvia, lógica e que, de anormal, nada tinha. Decidi fazer um, digamos, test drive familiar. Beijei, lambi, chupei e comi todas as nove primas de minha esposa. Tudo isso num período de três meses. Exatamente nos três meses que sucederam as citadas bodas. E, esperto que sou, para incentivar a disputa e conseguir tirar o melhor de cada concorrente, fiz o que fiz avisando a todas o que eu estava fazendo. Assim todas sabiam que estavam enfrentando concorrência e conheciam suas concorrentes. Óbvio foi, e, confesso, não esperei nada diferente, que o causo correu a boca pequena dentro de toda a família. O casamento em si, pobre dele, não durou dois meses. Foi só o tempo de minha esposa saber do que ocorria e de eu decidir que ela, definitivamente, não era a melhor entre as primas.
A árdua disputa gerou, por um tempo, inimizade geral entre as primas. Inimizade finada até o tempo de minha escolha, por Lurdinha (que ganhou por pouco de sua irmã, a Cícera), quando todas se uniram no ódio contra a melhor entre as primas.
Foi então que decidi, agora sem dúvidas sobre minha escolha, e sem erro, que casaria com Lurdinha. E casei. Casei e hoje completamos trinta anos de bodas.

Claro, meus problemas, na verdade, não acabaram. Depois que casei com a Lurdinha, você não iria acreditar na vizinha que arrumamos.
Mas, dessa vez, resolvi o problema de outra forma. E nem Lurdinha, nem o marido da vizinha, nunca desconfiaram de nada.

terça-feira, março 7

Sexta-feira tensa

- Oi, vaca! – atendeu Júlia.
- Ah, Jú, me ajuda. – respondeu Rita
- O que foi? Tudo bem?
- Não.
- O que foi?
- É essa sexta-feira maldita! Eu odeio quando o último dia útil do mês cai na sexta. Odeio!
- Vixi, amiga, relaxa. Ela já acabou. Agora a noite é nossa.
- É, nada. Ah, Julinha, eu 'tô mais dura do que qualquer coisa que eu tenha visto nos últimos meses...
- Credo, Rita! Então a gente tem outro problema, né? – disse Júlia, deixando escapar uma risadinha suave.
- Nem me fale...
- Ah, Ritoca, pare com isso. Onde você ‘tá?
- No ponto de ônibus perto da empresa.
- Então pegue um ônibus e vem pra cá. A gente vai se divertir, mesmo sem dinheiro.

Assim que desligou o telefone, Júlia ligou para a Rosa, intimando-a a comparecer ao rendez-vous que se armava, e foda-se se a Rosa tinha algum outro plano para a sexta.
- Mas, Julião, eu marquei um cineminha com o Pedro.
- Não, Ró, ele vai entender. Deixe que eu falo com ele. Relaxe e vem. É vida ou morte. Sua morte, no caso.

E lá foi Júlia atrás de um fumo, que ela jurava ter em algum lugar da casa.

A grande maldição é que ela tinha escondido o fumo muito bem, para que o Gustavo, “aquele corno, filho da puta”, como ela chamava seu ex-namorado, nunca encontrasse.
Quando a campainha tocou – o porteiro já nem mais interfonava para seu apartamento quando uma de suas amigas chegava – ela ainda não tinha encontrado o fumo.
- Vaca, abre aqui! – gritou Rosa do lado de fora. - Que merda de cheiro é esse?
- Incenso. – Disse Júlia abrindo a porta - É para a Rita.

Quando Rita finalmente chegou, os furacões Júlia e Rosa já tinham devastado o apartamento.
- Meninas de Deus, o que é isso?
Júlia nem perdeu tempo:
- Rita, por Deus, lembra quando o corno filho da puta se instalou aqui em casa?
- Claro.
- Lembra que eu tinha um fumo maravilhoso que escondi muito bem para que ele não achasse? - Lembro.
- Lembra onde foi?
- Claro.
- Sua puta!
- Ninguém manda ser lesada. Você enterrou no vaso da figueira, lembra?

Quinze minutos depois, elas pulavam e cantavam, completamente chapadas, só de calcinha, na sala, enquanto ouviam, repetidamente, a segunda metade da música Jaya jagatembe, do Krihsna Das.

segunda-feira, março 6

MULHERES

Eis, a semana, não?
Ou é só mais uma semana dentro das todas outras em que devemos venerar as mulheres ao nosso redor?

De qualquer forma, essa semana tem tratamento especial a elas, que merecem. Sempre.

Oscar qual?

E o Oscar, hein? Que coisa, não?
Bem, honestamente, não.Ô coisinha mais chata.
Eu nunca, em toda minha vida, consegui assistir a uma cerimônia dessas, e não foi por falta de tentativa. Em todas as vezes que tentei o resultado foi o mesmo: sempre tem outra coisa muito mais interessante para se fazer ou para se ver (ontem, p. ex. a HBO passou HellBoy).
É sério.

VMB (Vídeo Music Brasil), Grammy, Cannes, Globo de Ouro, MTV Movie Awards, Oscar... ufa! Não faltam prêmios por aí para os outros tentarem dizer pra gente, ou melhor, empurrar pela nossa goela abaixo quem é o supostamente melhor.
Mas, e daí? Não gosto de filmes Hollywoodanos. A música pop, ou melhor, as músicas mais populares, em geral, não tocam no meu radinho de pilha. Então, para mim, esses prêmios não significam absolutamente nada.
Desculpe, mas tente entender: eu sou amante de artes. Mas leia com calma: A R T E S. Entendeu? Arte. E arte, claro, como todos nós sabemos, inclui pintura, escultura, literatura, música, teatro, dança, cinema e fotografia. Somando isso ao fato de que minha principal (e pior?) característica é ser muito, ou melhor MUITO crítico em relação a tudo que amo, o que inclui, como dito acima, artes...

Entendeu por que o Oscar não me vale picas? Raramente premia a arte.

Para mim vale muito mais, por exemplo, um prêmio como o da revista Roadie Crew, uma revista de música pesada (música essa popularmente conhecida como Metal, da qual eu gosto muito). O prêmio é eleito pelos leitores. Cada leitor pode votar uma vez e pronto. Os mais votados são eleitos os melhores. Não é isso perfeito?

Se os prêmios cinematográficos fossem focados em seus ramos, quem sabe... Digo, imagine que bacana um prêmio que premiasse efetivamente a arte, sem politicagem, nem nada. Não seria melhor?
Quer ver só? Então veja:
Você sabe o que tem em comum os filmes “Cidadão Kane”, “Fellini 8 ½” e “O Grande Ditador” (para ficar só nesse do Chaplin)?
Nenhum deles ganhou o Oscar. Ou melhor, todos eles deixaram de ganhar o Oscar para os “excelentes” e “sempre lembrados” filmes “Como era Verde meu Vale”, “As Aventuras de Tom Jones” e “Núpcias de Escândalo”, respectivamente.
Então para que perder tempo?

Aliás, a saber: no prêmio da Roadie Crew, a excelente banda “King Bird”, formada por amigos e colegas meus, que ano passado lançou seu primeiro disco por uma gravadora, mas não toca em rádio, não vende em nenhum loja fora de São paulo e essas coisas todas, conseguiu os seguintes méritos:
- 2ª banda revelação
- 3º melhor vocalista (o excelente João Luiz)
- 6º melhor guitarrista (o irmão Silvio Lopes)
Eis algo a se comentar...


Oscar, para mim, é o nome do ótimo zagueiro titular do Tricolor durante a década de '80.