sábado, fevereiro 18

Voando

- Como se faz para voar tão alto? – perguntou o mais novo.
- Não sei explicar.
- Mas você acabou de voar! Eu tento todo dia, todos os dias, nunca consigo, sempre caio.
- Tem coisas que você simplesmente faz. Vem de dentro. É com o coração. Não se pára para pensar antes de fazer algumas coisas. Não é tudo que fazemos com o raciocínioto. Eu nunca parei para pensar antes de voar. Enquanto estou voando, lá no alto, eu não penso em como fazer; simplesmente começo a fazer. E quando vejo, já voei.
- Eu queria tanto conseguir voar...
- Por isso não consegue. Fica ansioso demais.
- Então eu nunca voarei?
- Sim. Voará. Você só precisa aprender a relaxar.
- E só relaxar?
- E acreditar que você pode. Se você acreditar que poderá voar e relaxar, quando você não perceber, estará lá no alto, comigo. Tchau.

Alguns meses depois, deitado na grama de um parque qualquer, completamente relaxado, o mais novo ouvia uma música ao longe e começou a sonhar que estava voando. Sonhou com tanta força, que acreditou que fosse verdade. Quando deu por si, continuava deitado na grama.

Ele nunca voou.

quarta-feira, fevereiro 15

Brincadeira de criança?

Quando eu era moleque, a diversão estava garantida com uma coisa bem simples.
Era só pegar um copo qualquer, encher de água, pingar algumas poucas gotas de sabão líquido, desses usados para lavar louça, mexer bem, e pronto. A brincadeira já podia começar.
O desafio, além de fazer uma bolha de sabão maior que as bolhas que minha irmã e meus primos faziam, era conseguir segurar a bolha sem que ela estourasse ao tocar na mão.
Era essa, aliás, a parte que eu mais gostava. Eu nem ligava tanto para o tamanho da bolha. Qualquer bolha de sabão que saísse, lá estava eu tentando pegar a bolha na mão.
E quando eu conseguia, era uma festa.

Agora, pegar essa bolha com mão?

Nem pensar.

Foto de David Hancock / AFP, retirada do home da UOL.

terça-feira, fevereiro 14

Um bom almoço

O primeiro passo foi a escolha da massa, por isso mesmo fui de Spaghettini nº3, da Barilla.
No meu molho de tomate, à bolonhesa, além dos ingredientes básicos, eu coloquei, o que pra mim é indispensável: leite, que deixa o molho mais cremoso (a quantia varia de acordo com a cremosidade que vc queira dar) e açúcar, para quebrar a acidez do tomate (cuidado para não deixar o molho muito doce). Isso, claro, além de louro, majericão e orégano.
Para fechar tudo isso com chave de ouro, meia garrafa de Miolo Pinot Noir, safra 2004.
Então, a tarde melhora. Muito. Deixando somente a dúvida: quem disse que cozinhar para um e almoçar sozinho é realmente ruim?

Pagode da Jurema

São Paulo realmente é de encher os olhos, de elevar a alma e de acalmar o agitado coração. Mesmo com seu trânsito babilônico e com seu ritmo sem sentido, eu amo São Paulo.

Quer dizer, na verdade não é bem São Paulo que enche a alma, que eleva o coração ou que acalma os olhos, mas sim o pagode da Jurema. Lá, no pagode da Jurema, tem Original, sempre geladinha, tem a caipirinha do Pedrão, sempre caprichada, e tem ela, sambando.

Ela.

Sim, ela.

Ela que realmente enche o coração, eleva os olhos e acalma a alma. Ela, uma coisinha de pouco mais de metro e meio e que toda terça-feira está na lá, no pagode da Jurema, sambando como se o samba tivesse sido criado só para que ela sambasse.
Só vendo para entender.
Morena, com a pele queimada do Sol de Bertioga, para onde vai todo final de semana, na casa da prima que se mudou para lá, sempre com o colo à mostra, exibindo a marca do biquíni, samba só, num rebolado miúdo, contido, planejado, nada espalhafatoso, como quem aprendeu a sambar bem antes de aprender a andar.
Cabelo castanho, longo, com suaves e discretas mechas loiras da parafina que, da prancha, foi, nem ela sabe muito bem como, parar no cabelo, e que cada dia é arrumado de um jeito, vezes solto, vezes preso.
E lá vai ela, sambando, rebolando, espalhando seu cheiro pelo salão. E samba sem se preocupar com ninguém, como se ninguém estivesse vendo, como se ninguém reparasse, porque, para ela, sambar é a coisa mais normal e natural que tem.

Mas, ah, se eu pudesse, um dia só, pegar naquela cinturinha dela, que se torce e retorce como que me chamando para sambar...
É toda terça-feira.
E toda terça-feira, claro, eu, como que sem nenhuma outra intenção, estou lá na Jurema, onde sempre tem um bom samba bem tocado, só para vê-la sambar seu samba que me nocauteia.

O diabo, a maldição, o inferno é que além dela e de mim, toda terça-feira, no pagode da Jurema, eu tenho que levar, a tira-colo, a patroa, a chefe de casa, a mãe dos meus filhos. Pior, o Coisa Ruim, vestido num traje de gala vermelho, bota fogo na patroa, que sai sambando salão adentro. Um samba bonito, sem dúvida, que, de tão bonito, já me arrumou duas brigas no pagode da Jurema. Mas, coitada da patroa. Por mais que sambe, e, repito, samba muito bem, mesmo sendo loira, filha de alemães, nunca vai conseguir sambar que nem a outra. Nunca vai sambar com a graça que só aquela outra tem.
Enfim, ainda assim, acredito que Deus me abençoou, porque é graças a Ele que a patroa gosta de samba. Gosta tanto que se eu, numa terça-feira qualquer, deixar a entender que não vamos ao pagode da Jurema, ganho carinhos extras, que a patroa me dá só para me convencer de levá-la na Jurema. E é graças a esse amor da patroa pelo samba que, toda terça-feira, eu vejo aquele rebolar gostoso de metro e meio a espalhar, pelo salão, o charme de sua morenice, adquirida em Bertioga. Charme que eu admiro da mesa, mesmo, com minha Original gelada e a caipirinha do Pedrão como companhias. Não ouso arriscar um passo de samba sequer. No máximo, tamborilo timidamente meus dedos sobre a mesa, no ritmo do samba, mesmo porque, afinal, tem uma coisa que nem a patroa sabe: eu odeio samba.

domingo, fevereiro 12

Pizza, alimento sagrado e... doce

A pizza pode ser um alimento sagrado.
Pode. Não necessariamente é (e o Rio de Janeiro, desculpem-me os cariocas, é mestre em provar isso).
Para ser sagrada a pizza depende de muitos detalhes.
Começa pela massa, que deve ser saborosa, e não deve ser nem grossa, nem muito fina (afinal borda se come, não se joga fora). O molho de tomate é a peça chave da pizza. Molho caseiro, bem temperado, sem economia, sem exagero, deixa a pizza deliciosa. O queijo utilizado, seja um mozarela, seja o requeijão (Catupiry é a marca, anta!), ou qualquer outro, no caso da deliciosa 4 queijos, deve ser sempre de altíssima qualidade, assim como todos os demais ingredientes.

Você pensou em catchup? Por favor, saia deste blog. Você não é bem vindo aqui...

Se tudo isso estiver em ordem, a pizza fica sagrada.
Um simples deslize, a pizza perde o status de sagrada. Mas pode ganhar o status de deliciosa, desde que o deslize não seja no molho de tomate, que é primordial.

Agora, raciocine. É óbvio que para que tudo isso dê certo, claro, há um custo. Então desconfie da pizza muito barata. Em 100% dos casos, você terá uma frustração.
Só que existem os milagres.
Ah, existem milagres, sim. E eu presenciei um milagre desses ontem. Bem na minha frente.

A pizza tinha a massa fina, sem muita borda (o que passa, sem problemas) e, para por tudo ao chão, não tinha molho de tomates!
Acreditam? Não?
Ora, claro que não tinha molho de tomates: era pizza doce.
Aliás, que pizza doce.
E olha que pizza doce gostosa é difícil, afinal, como dito lá em cima, pizza boa deve contar só com bons ingredientes. E achar uma pizza doce com um bom chocolate é como achar uma agulha no Saara. E, acredite, o chocolate da pizza de ontem era de bom para razoável. Mas a tal pizza doce que me derrubou no chão (no bom sentido) não levava o chocolate. Era até bem simples: açúcar, canela e abacaxi.

Você já conhecia pizza de abacaxi? Nem eu.
Mas ontem eu conheci. E, pelo amor de seja lá quem for, que coisa mais deliciosa. O pessoal não economizou no abacaxi, cortado em pequenos cubos. Coisa de louco. Divina. Fantástica. Sagrada.


Eu aconselho:
Você está em casa sem fazer nada e com vontade de comer alguma coisa doce? Então compre um bom abacaxi, prepare a massa e bom apetite. Você não vai se arrepender. Com certeza.

sexta-feira, fevereiro 10

Amargor bom?

Aquela velha lava que varre tudo, como diria Paulinho, realmente traz um gosto amargo à boca.
O problema, na verdade, diferente do que muitos pensam, não é quando o gosto chega à boca, e sim quando a boca se acostuma com o amargor de tal forma que o sabor doce perde todo o sentido.

quinta-feira, fevereiro 9

Só mais um trabalhador comum

Argeu, 25 anos de idade, mora na Baixada Fluminense, na cidade de Belford Roxo.
Todo dia ele acorda cedo e, após uma hora e meia de viagem, feita em dois ônibus lotados, onde deixa um total de R$3,10, ele finalmente chega no local de trabalho, em Nova Iguaçu.
O trabalho, de tanto que lhe exige esforço físico, é dividido pela manhã e pela tarde. Porém, trabalhador, além do trabalho diário pela manhã e pela tarde, alguns dias da semana ele tem dormir no trabalho, pois na noite seguinte seu cargo lhe exigirá uma responsabilidade grande, muita concentração e muito esforço físico. Mesma responsabilidade, mesma concentração e mesmo esforço físico que deverá demonstrar, vez aqui, vez ali, numa bela tarde de domingo, após mais uma bela noite longe de casa, no trabalho.
Tanto trabalho e tanta dedicação trouxeram como recompensa um grande reconhecimento do chefe direto, que confia nele plenamente, dando-lhe uma responsabilidade extra de tomar conta de todo um setor de onde trabalha.

Próximo domingo, Argeu trabalha. Porém, diferente da maioria dos trabalhadores cujo profissão lhe toma o domingo, Argeu não vê a hora de domingo chegar, pois será o domingo mais importante de sua vida, domingo que poderá lhe trazer um belo presente, uma bela recompensa pelo trabalho, pela dedicação. Nesse domingo, ele trabalhará em um lugar mágico, único, mítico.

Argeu trabalha com as bolas nos pés. Seu empregador, o América Football Club, disputa o campeonato carioca de futebol. E domingo, Argeu, titular do time, volante aguerrido, ao lado de seus companheiros de trabalho, defenderá seu empregador, o América, na final da Taça Guanabara, em pleno Maracanã.
Domingo, assim que o jogo acabar, Argeu, em algum momento, se encontrará sozinho, no ponto de ônibus, aguardando a volta pra casa. Só o destino sabe se, no ponto, Argeu estará decepcionado ou se estará incrédulo, explodindo de alegria e levando pra casa a medalha de campeão da Taça Guanabara.

Boa sorte, Argeu.


Obs.: História não-fictícia. Todo seu conteúdo é incrivelmente verídico.

quarta-feira, fevereiro 8

A poesia no futebol carioca

Gosta de futebol?
Se não gosta, ficou complicado, agora...

Mas, se você gosta, pergunto: mora no Rio de Janeiro?
Se não mora, nem nunca morou, então vou tentar explicar o que está acontecendo aqui no Rio agora.

Mas antes, a pergunta: sabe quem foi Lamartine Babo?
Criador de famosas marchinhas carnavalescas, como “Linda Morena” (Linda morena, morena, morena que me faz penar...) e “O Teu Cabelo Não Nega” (O teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata da cor...), Lamartine Babo é considerado um dos maiores compositores da história da música popular do Brasil
Lamartine, entre tantas coisas boas que criou, é o criador do hino dos 5 grandes clubes do Rio de Janeiro, hinos que são, indiscutivelmente, os mais bonitos do futebol brasileiro.
Opa! Peraí! Cinco grandes clubes no Rio?
Sim, cinco: Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco e... América.
Isso mesmo, o América é considerado, por muitos (eu incluso), mas não por todos (a maioria burra), um time grande aqui no Rio.

E voltamos ao futebol...

O América, ou, Ameriquinha, como é carinhosamente chamado por seus torcedores, possuí a mais fiel das torcidas cariocas. E, centenário, possui uma história importante dentro do futebol carioca, sendo, entre outras coisas, o primeiro finalista de um campeonato estadual do Rio de Janeiro.
Mas é, sobretudo, graças a seus torcedores, que o América é um clube especial. O América é cult. É poético. Seus torcedores têm, como característica típica, a ponderação e o amor mais puro. Amor maduro. Amor livre de paixão (que toma-nos a razão). É lindo ver a relação que os torcedores do América têm com seu clube amado. Lindo.
A coisa é tão incrível, o América gera um carinho tão intenso, que é, indubitavelmente, o segundo clube do coração de quase todos os cariocas. Até eu, recém chegado por aqui, já sinto um certo carinho pelo América, não nego.

E, para completar isso tudo, o América tem o hino mais bonito do futebol brasileiro. Isso talvez porque Lamartine, o autor, tinha no América o seu clube do coração.

E eis que o América, após 23 anos, está novamente em uma final de campeonato, a Taça Guanabara, que é o torneio mais charmoso do Rio de Janeiro. Final essa que será disputada contra o Botafogo, justamente o outro único grande clube do Rio que tem mais tradição, história e charme que os demais e que é, justamente, o menos popular entre eles.

É por tudo isso que hoje o futebol carioca vive um clima carregado de poesia, como eu nunca tinha visto no futebol. É muito bonito.

Por isso tudo que...
Hei de torcer, torcer, torcer...
Hei de torcer até morrer, morrer, morrer...
Pois a torcida americana é toda assim
A começar por mim
A cor do pavilhão é a cor do nosso coração
..."

Caricatura?

Sim, mais um pouco do assunto.
Aqui, pela falta de preconceito de minha parte, publico uma caricatura de um Jesus, no boteco.

TV e Cerveja

terça-feira, fevereiro 7

Senna x Shummy

Qual o melhor piloto da história da F1?
Vote
aqui.

Ainda sobre Caricaturas

Todo e qualquer crédito que o jornal dinamarquês Jyllands-Posten tinha perante este grande leitor aqui, caiu por terra.
Negaram-se a publicar uma caricatura de Jesus? E não o fizeram porque, segundo eles, isso seria um desrespeito?

Bom, nesse caso....

Ainda assim, a violência não é justificada. Nunca. (mas esccorregaram feio, hein?)

domingo, fevereiro 5

Campanha Blogs a favor da liberdade de expressão

Com o post abaixo, dei início a uma singela e humilde campanha a favor da liberdade de expressão. Foi graças a caricatura abaixo (o que, venhamos e convenhamos, não tem nada de tão diferente da realidade) que alguns religiosos xiitas e ignorantes deram início a ridícula e absurda onda de vandalismo.

Junte-se também a essa campanha.
Tenha coragem e divulgue também a Campanha Blogs a favor da liberdade de expressão.
Boa sorte.

Homem(Santo)-bomba


Fonte: jornal Jyllands-Posten, dinamarques.

Maomé

Estão querendo nos convencer de que Maomé sente-se extremamente ofendido com uma caricatura sua como terrorista, dando a seus seguidores a possibilidade de ataques contra aqueles que O ofendeu, mas abençoa, elevando aos céus, aqueles que, como terroristas, tira vida de inocentes em ataques suicidas, certo?
E o papa com cara de diabo ainda reprime os jornais pela charge, afirmando que liberdade de expressão não inclui ato anti-religioso?
E depois também tentam nos convencer que os líderes religiosis cristãos são muito menos xiitas...

Olha, por um momento eu pensei estar no séc. XXI, mas com a possibilidade eminente de Heloisa Helena ser queimada viva na fogueira, acusada de bruxa, creio que, ou estou em séc errado ou o ser humano não evolui absolutamente nada nos últimos séculos.
Eu queria muito, em protesto contra atos repugnantes que só mesmo a religião, o maior atraso existente na Terra, pode causar, colocar aqui uma das 12 charges que foi feita de Maomé.
Mas até agora eu só achei a charge que o jornal francês France Soir fez em protesto contra os ataques.
Ei-la:

"Não proteste, Maomé. Aqui, todos temos sido caricaturizados."

quarta-feira, fevereiro 1

Um conto cotidiano

Eu estava com a minha camiseta mais bacana. Coincidência. Ela é cinza clara, com uns desenhos abstrados, riscos, na verdade, vermelho e amarelo, por toda ela. E na altura dos meus peitos está escrito "last night I dream that somebody loved me...¹", em preto, pequeno, discreto. Eu tinha acabado de colocar o DVD do Pixies, o "Sell Out", da turnê de 2004, a qual eu até hoje não acredito que vi ao vivo, quando ele entrou na loja.
Calça jeans, um tênis qualquer e uma camiseta branca com o desenho do
boneco que tem em tantos encartes do Radiohead, sabe qual é?
- Oi. - Ele disse, mal olhando pra mim e indo direto para a seção de filmes orientais.
Eu não desgrudei os olhos dele. Era a segunda vez que ele vinha na loja e eu, desde a primeira vez que o vi, fiquei encantada.
Já disse que ele esava com fones no ouvido? Então, ele estava com fones no ouvido, não sei o que ouvia, mas deve ter sido por isso que não reparou o DVD do Pixies rolando. O curioso é que é raro eu colocar um DVD musical na loja, afinal locadora vive de filmes, então eu quase sempre coloco filmes para rolar. Mas eu estava muito a fim de ver o DVD que tinha acabado de chegar, então eu coloquei, já que a loja fica sempre vazia, principalmente as terças, como ontem. Coloquei e ele entrou na loja. Deve ser algum sinal, não?
Bom, era meio óbvio que ele gostava de Pixies. Porque todo mundo que gosta de Radiohead gosta de Pixies, ou quase todo mundo, ou você esqueceu que o Tom Yorke² disse uma vez que no começo da carreira deles eles queriam apenas soar como o Pixies?
Então, quando ele terminou de escolher o filme, veio andando na direção do balcão no qual eu estava, ele olhou o Frank Black na TV e parou. Tirou o fone dos ouvidos e ficou assistindo o DVD por uns três minutos, mais ou menos. Era "U-Mass"³ que estava rolando. Quando a música acabou, ele veio até o balcão e finalmente viu minha camiseta.
- Bom, né? - disse se referindo ao DVD e me entregando a caixinha do ótimo "Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera".
- Estou vendo agora pela primeira vez. Muito bom - disse eu, meio nervosa.
- E pensar que eu vi essa turnê...
- Sério?! Eu também. Em Curitiba!
- É. Show bom, né?
- Nossa, excelente.
- Sabe que há seis meses eu fui pra Inglaterra, a passeio, de férias, e consegui ver um show do Morrissey? Muito bom. Realmente muito bom.
Olhie pra minha camiseta e ri. Não sabia o que dizer. Ele tem o mesmo gosto musical que eu. Eu gelei. Travei.
- E, ah, e... é só esse, hoje? - perguntei, pegando a caixinha do filme, após uns 3 dias de silêncio entre a gente.
- É. Eu vi esse filme no cinema. É excelente. Já assitiu?
- Já. Já vi. Muito bom.
- Pois acredita que minha noiva ainda não viu? Estou alugando para vermos hoje a noite. Ela vai adorar esse filme.
- Sua... noiva?
Eu estou de TPM desde domingo! Imagine quão arrasada fiquei! Noiva!

Sabe, eu tenho uma teoria de que Deus foi morto pelo Diabo, que agora controla tudo e fica brincando com a gente.
Sorte que isso foi perto da hora de fechar. Saí daqui com a Ritinha e fomos para um barzinho. Enchi a cara e quando fui ver era quase quatro da manhã...

Sei que errei, desculpe, mas você entende por cheguei atrasada hoje, chefinha?


1- Título de uma música do Smiths.
2- Vocalista do Radiohead.
3- Título de uma música do Pixies que esse escriba acha genial.