sábado, agosto 23

Le Mort

Toda morte é um recomeço. Menos para o morto. Não no plano em questão. Alguns sorriem, aliviados. Muitas vezes, o próprio morto tem o sorriso estampando, ali, no caixão. Outros tantos, choram. Ainda assim, quem sabe?, as vezes o recomeço é para melhor. Soltam-se amarras e o caralho a 4.
Ressureição?
Vai saber...
Enfim, recomecem daí.

sexta-feira, julho 25

Paralelamente

Passou-se um mês além de um ano, já. Atrasado, um pouco por falta de tempo, outro por falta de inspiração e muito tanto pela falta de palavras que o disco causou em mim, sei que devo a alguém – se é que há alguém, e se não não o sei – um comentário sobre o mais recente álbum do Ludov, Disco Paralelo.

Aproveito as horas perdidas numa rodoviária, então...




















O que dizer quando uma de suas banda preferida se propõe a lançar um disco cuja audição se encaixa em você tal qual uma peça de um lego, é que o que não consigo encontrar.
Posso começar me derramando em elogios aos nome do disco, que, ao meu ver, se encaixa perfeitamente àquilo que a banda fez no novo trabalho, se comparado aos anteriores, fazendo parecer realmente um projeto paralelo da banda.
Mas, apesar de o nome do disco poder ser usado para traduzir tudo o mais de perfeito que a banda fez para o Disco Paralelo, não encerra-se aí o tudo que o disco representa.
Gravado no Rio de Janeiro, ao lado do apartamento onde eu morava, as vezes tenho a sensação que, mesmo à distância, a banda captou um pouco das minhas energias e as traduziram em músicas. Letras sobre distâncias, reviravoltas, voltas por cima, mudanças geográficas e internas, músicas com toques minimalistas, com melodias brilhantemente lindas, que nos pincelam uma leve melancolia... Ah, a melancolia. A mesma de uma abelha de maio. Quase que deixada de lado junto com a língua inglesa.
Há tempos que eu julgava o Ludov uma excelente banda, que perdia para o Maybees não pelo uso da língua pátria – pelo contrário – e sim pelo sentimento de uma melancolia cuidadosamente construída, não-natural (nem artificial) utilizado desde então.
Isso, até o Disco Paralelo.

De forma impecável, Mauro, Habacuque, e Vanessa superaram, finalmente, a si mesmos e se somaram perfeitamente com Chapolin.
Maybees ficou para trás. Todo o passado ficou para trás.
Incomparável.
Histórico.

Um dos poucos excelentes discos de 2007.

segunda-feira, abril 28

Lótus

Ela tem, em seu ombro esquerdo, uma flor de lótus estilizada, em preto e sombras sobre sua branca pele. Na regata branca, uma estampa alaranjada pousa à direita, já perto da cintura. Em seu pé, um velho All Star verde, surrado, sobre uma meia roxa. Carrega consigo seu contra baixo com o qual participa de uma orquestra qualquer. Está ali não só como fã da banda que se apresentará logo mais; vai tocar, no show, em uma ou duas músicas. Enquanto espera pelo início, toma sua sexta garrafinha de cerveja, entre novos amigos e ex-desconhecidos. Com movimentos suaves, participa da animada rodada de truco. Distribui e esbanja descontração. Nos olhos, grandes porém ligeiramente longilíneos, brilha o sorriso dos lábios. Isso somado a sua delicada feição e ao seu corpo bem torneado pela capoeira, a força a dispensar os cinco ou seis bem aventurados que tentaram um contato mais íntimo.
De longe, ao balcão do bar, brindo-lhe com meu cowboy. Recebo um aceno adocicado como retribuição. Aponto-lhe a porta, por onde está entrando sua grande paixão, cujo nome desconheço. Alguns poucos quilos acima do peso, é ainda mais bonita que Fernanda. É barbaramente linda e graciosa.
Torço por elas, para se acertem, que dêem certo. Será, de longe, o mais lindo casal da diversificada noite paulistana.

terça-feira, março 25

Juno

Mark: Ouviu isso?
Junebug McGuff: O quê?
Mark, aumentando o volume do aparelho de som: Essa é minha musica favorita. É o Sonic Youth cantando Superstar dos Carpenters.
Junebug McGuff: Sim, claro. Conheço os Carpenters. Uma garota na bateria e um cara estranho... Tipo White Stripes.
Mark: Você nunca ouviu os Carpenters assim. Apenas ouça.


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Para quem foi adolescente. Para quem gosta muito de música. Para quem gosta de rock independente.
Para quem gosta de diversão fácil e simples.
Não precisa ser no cinema. Não necessariamente. Pode-se esperar sair em vídeo. E, com diálogos como o acima? Imperdível.

Claro que já baixei a deliciosa trilha sonora. Você não?
Tsc, tsc, tsc.
Tente aqui.

quinta-feira, março 20

Mais uma

A solidão e esse sentimento de angústia, que ela carrega dentro dela, nada mais são senão uma forma de carência. E a carência sempre é nada senão uma clara indicação de que se foi mimada em algum quando. Por isso, sai às ruas, pelos bares ou por qualquer outro lugar procurando alguma cerveja mais gelada que seu coração. Difícil. Então volta para solidão angustiante de sua velha kitnet e conecta-se a todos os programas de bate-papo instantâneo que conhece. O dia nasce e ela continua lá, com todos e sem ninguém. Olhos ardem, vista embaça, o corpo está cansado, mas ela não consegue dormir. São essas coisas em sua cabeça. Perto do meio da manhã, o telefone toca. Ela não se mexe. A secretária grava o recado da Carol, que nunca será ouvido.

Não sente fome. E mata sua sede com as latinhas de cerveja quente que estão ao lado do computador. Não quer morrer, nem tem nenhum sentimento suicida. Gosta da vida, gosta de viver. Pena que ela não a tenha, pena eu não o faça.

quinta-feira, março 13

A verdadeira beleza

Sou veemente contra este padrão de beleza estereotipado e fútil que circula mundo afora. E se a beleza que mais chama a atenção de alguém é a externa, como ela pode ter variações tão agudas? Se num momento Juliana Paes é a delicia da vez, no outro ela tem muitas curvas; mas se ela emagreceu para ceder a alguns, então está magra demais, doente, ou algo que o valha.
A verdade é que nossa insegurança é tão grande, trazendo a tona uma inveja tão bem camuflada, que nos faz ter a sensação que achar alguém belo é diminuir-se por não se encaixar no padrão de beleza daquela certa pessoa.
Não é uma boca torta que tira a beleza. Na verdade tal boca contraria, até, essa definição, uma vez que o cerne da beleza esteja justamente na boca torta, que faz realçar outras belezas mais latentes e pasteurizadas.

Pois vejam isso:











Ela é russa, mas mora nos Estados Unidos desde os oito anos de idade. Bela ou feia, não importa. É quando esta pianista abre a boca, que sua maior beleza surge e transforma em belo tudo mais em volta dela; até aquilo que, por ventura, a pasteurização do embelezamento viesse a criticar.

Регина Спектор (Regina Spektor) me fez parar o carro numa movimentada avenida, já perto de casa, só para que eu a pudesse ouvir até o final dizendo, pelo rádio, “I hear in my mind all these voices, I hear in my mind all these words, I hear in my mind all this music and it breaks my heart”.

Ouça e veja o vídeo de Fidelity e entenda.



Depois vá atrás de On The Radio.
Хорошо! (lê-se Rraraxó = "muito bom", em russo).


Obs.1: Conhecem aquela música Post Modern Girls, do Strokes, não? Adivinhem de quem aquela voz doce...
Obs.2: Traduções do/pro russo, pronuncia e alfabeto by Ela.

quinta-feira, fevereiro 21

Ponte aérea cultural

Viver na ponte aérea Rio - São Paulo, de coqueluche, não tem nada. Ambas, há muito, já perderam o glamour de antes. A da garoa ganhou trânsitos homéricos e chuvas torrenciais que a alagam por completo. A maravilhosa, de orgulho, parou para se admirar e quando abriu os olhos já estava tomada pelo tráfico, pela violência e pela injustiça social mais aguda. Para completar, ultimamente, foi a ponte aérea em si que se desgastou. Os vôos, de cinqüenta minutos, passaram a ser de três, quatro horas, sendo quase todo esse tempo gasto no saguão de embarque.
Mas como tudo o que está ruim sempre tende a piorar, para mim a ponte aérea traz outro incômodo: a confusão cultural (agravada pela idade).
Se metade de meus livros, CDs e DVDs está em cada ponta da ponte, nunca sei qual ou o que está onde e quase sempre me pego querendo assistir aquele DVD ou querendo reler aquele livro que está na outra cidade (que só descubro estar na outra cidade depois de procurar muito). Um absurdo. Se resolvo pegar um CD e mudá-lo de cidade para ouvir enquanto estou nela, quando volto para a outra cidade bate-me a desilusão de não mais poder ouvi-lo. Desesperador.
Pois agora ganhei um novo problema. Tenho um endereço de e-mail que uso apenas para cadastrar em sites de lugares para ir, eventos culturais para se fazer, informativos para se receber. Até aí, inteligente de minha parte, pois recebo muitos desses e-mails e ter um endereço só para eles me auxilia na administração do mesmo. A merda é que já não sei mais se o evento cultural é em São Paulo ou no Rio, e quando sei, vejo que a cidade em que não estou sempre tem um algo para ir que é mais interessante. Agora mesmo, estou em São Paulo e acabo de ver os e-mails das baladas desse final de semana em ambas as cidades. Promete. Logo de cara, uma me chama a atenção: nesse final de semana tem Cachaça Cine Clube com Jards Macalé. Imperdível!! Fui seco no e-mail para ver a data exatamente e... Esqueci, é no Cine Odeon, no Rio. Bosta!
Pelo menos São Paulo também promete. Tem Ludov na Outs, Anjo dos Becos no Inferno e Mallu Magalhães, ela mesma, no Studio SP. Bonito, lindo. Mas como a piscina do vizinho está sempre com uma morena mais gostosa...

segunda-feira, fevereiro 18

Almoço


Ah, o arroz da minha avó...
Tem mais que gosto de infância, mais que gosto de arroz bem feito, mais que gosto de arroz do interior, arroz caipira.
Nenhum é tão bom. Dá até para comer de colher, como o fiz com praticamente todo arroz que acabara de me servir.

sexta-feira, fevereiro 15

O espelho

Eles se conhecerem há trinta anos, no limiar da idade madura de cada um. Não descrentes do amor, mas descrentes de qualquer tipo de relacionamento possível, nem mesmo amizades. E não era amargura, ressentimento ou qualquer algo que os fizessem pensar assim. Era apenas os anos vividos, o ápice atingido ali, perto do limiar da idade.
Ele vinha de um relacionamento mergulhado em amor. Ela vinha de um relacionamento resfriado pelo tempo e pelo ressentimento. Não enjoaram de seus antigos parceiros, apenas perceberam quão egoísta o ser humano realmente é, ao fundo, a ponto de necessitar mais tempo consigo que com outrem, a ponto de procurar sempre alguém tão como si mesmo. E foram, cada qual a seu tempo, a se modo, viver consigo e com todos.
Mas, num descuido do destino, conheceram-se.
Descobriram o quanto do outro havia em si. Muito mais, até, que de si no outro, fato que explodiu num tesão sem igual. E, apesar da determinação de não mais namorarem, fuderam-se um ao outro como nunca haviam feito antes com ninguém. Eram noites e dias seguidos trancados num quarto de hotel, com alimentação precária, não se importando para a vida lá fora, para emprego, para amigos, nada. Mas estavam resolutos em não entrarem em relacionamento algum.
...
Casaram-se.
...
Hoje, no supermercado, quando ele entrou por um corredor e deu de cara com ela, trinta anos depois de tudo aquilo, ambos paralisaram. Sentiram o frio na espinha, o rubor facial, o medo inseguro adolescente, o gélido suor, a falta de palavras. Ficaram ali, parados, encarando-se por alguns poucos eternos segundos. Cumprimentaram-se num misto de cordialidade, desespero, intimidade. Ele carregava uma cesta com poucas coisas, ela um carrinho carregado e uma criança a tira-colo. “Meu neto”, disse ela. Ele assentiu com a cabeça. “Bom lhe reencontrar depois de... faz o quê?”, perguntou ele, apesar de muito bem saber. “Trinta anos”. Ele não segurou uma lágrima. Despediram-se silenciosamente.
Ela segurou a ininterrupta dor latejante durante a fila do caixa e voltou para casa, com seu neto. Ele não finalizou as compras e foi direto para um boteco encher a cara.

segunda-feira, janeiro 28

Um meio parágrafo

Ela sai da cidade no final de semana apenas para encontrar com um ex-amante dos tempos de faculdade e transar até ficar latejando, aproveitando que o namorado está de plantão. Mas, claro, disse ao namorado que vai visitar a avó, que por acaso mora na mesma cidade. Ele acredita, nem se preocupa e no final de domingo vai buscá-la na rodoviária. O reencontro é cheio de amor e ela abocanha seu pau no carro, no caminho para casa, com uma volúpia sem igual e o faz gozar de forma alucinada. Sim, engole tudo, claro. Ele, obviamente, fica louco de amor, sem desconfiar que ela apenas o fez para não precisar meter com ele à noite, já que está ardendo tudo lá em baixo. Ele não desconfia, nem nunca desconfiará. Até se deu bem, afinal não recebe um boquete daqueles com a freqüência que gostaria. E ela, ciumenta e possessiva que só ela, nem pode imaginar que, na verdade, ele não estava de plantão e sim que queria aproveitar o sábado para reencontrar com Marizete, velha dadeira amiga dele, gostosa e fogosa como o quê.

quinta-feira, janeiro 17

Nada

Não. Não há nada de novo aqui. Tão pouco algo de interessante. E nem desculpas pedirei, pois realmente nada mais resta a ser dito ou lido. Tudo apenas há daqui pra fora, a partir da sua direita (olha lá).

É o fim? Não. Menos ainda posso chamar de um recomeço. É apenas uma admissão de incapacidade, de falha, de falta, do nada, do nada senão a futilidade* plena a ser dito, lido, visto, contado, divulgado...

(*) e de futilidades a blogsfera transborda.