quarta-feira, setembro 19

Um sem título...

Do balcão, eu a vi entrar. O que ela fazia num lugar como aquele? Seria uma ilusão causada pelo excesso de cerveja e de rabo de galo? Olhei a minha volta. Sim, eu estava no boteco do Alfonso, um boteco dos mais sujos e podres que há. Os mesmos poucos bêbados de sempre continuavam lá e todos pareciam olhar em direção a porta, o que me fazia crer que ou estavam tendo a mesma visão alucinógena que eu, ou ela realmente estava ali.
Quando sua boca se abriu e sua doce voz perguntou, com um sorriso, para o Alfonso se estava tudo bem e ele, do outro lado do balcão, garrafa de cerveja em mãos prestes a me servir, sorrisão largo, respondeu com um oi meu amor, eu senti minha jovem coronária querendo entregar os pontos.
Pela qüingentésima vez, medi-na à distância. Dessa vez, porém, com mais propriedade. Calculei altura, tirei sua roupa, apalpei sua carne dura e fresca. Chutei uns vinte anos. Imaginei-a em seu esforço diário na academia, suada, molhada, bochechas rubras. Senti sua língua macia e revigorante percorrendo-me a boca, o doce cheiro do ocre vaginal, sua voz em meu ouvido chamando-me para o abate. Pude senti-la quente. Senti-la minha.
Gozamos juntos, gritos que horrorizaram quatro quarterões.
De volta ao balcão, puxei um cigarro do bolso, acendi. De olhos fechados, traguei forte, traguei profundamente. Senti a nicotina e o tabaco entrar em cada veia de meu corpo.
- Beto. Beto! Essa é a Julinha, minha filha. Chegou ontem do interior.

terça-feira, setembro 18

sexta-feira, setembro 14

Relaxe, vai...

... ou relaxa e vai.

by Aline OS

Homenagem póstuma

Luiz Inácio era um sujeito aprazível. Mezzo inculto, de educação pouco talhada, sempre teve a seu favor um forte carisma, uma grande capacidade discursiva, o que lhe tangia, conseqüentemente, uma invejável retórica, e, por que não, uma diferenciada inteligência.
Lutava contras as elites oligárquicas, pela massa, com o povo.
Sujeito simples, sempre, porém.
Sabidamente, inscreveu na pedra filosofal da política do Bostlândia, país no qual nasceu, viveu e fez nome, a inegável e imutável afirmação de que o poder legislativo local era formado apenas por picaretas (à época enumerou mais de 300) com chapéu de doutor.
Oposicionista incansável, era de uma utilidade pública primordial, ainda que longe de unanimismo e de unanimidade.
Faleceu nos idos da década de ’90 afundado num sonho de grandeza excessiva e numa não rara crise de “egoite”

Hoje, se ainda vivo fosse, certamente contribuiria, com sua eterna forma torta, para fazer-nos lembrar que a morte das casas legislativas nacionais e, de uma certa forma, da política local em geral, não só não é de se espantar, como vinha sendo anunciada há anos, e somente as mulas (lê-se toda a população, o que inclui eu e você) não queriam admitir, fingiam não ver.
Se antes eram todos picaretas, porém com seus respectivos chapéus de doutorado, hoje temos populares, transeuntes, como cantores brega, ex-esportistas, costureiros bregas metidos a estilista, corruptos e corruptores assumidos, etc.
Luiz Inácio faria as Casas se incomodarem muito mais do que as reportagens de jornal o fazem.

Sua morte foi, portanto, a grande responsável pelo o que vivemos hoje.
Fica aqui minha homenagem ao falecido.

quarta-feira, setembro 12

Afogados...

- E aí, aonde você vai?
- Tomar uma breja.
- Agora?
- É. Para esquecer...
- A aula começa em meia hora.
- E?
- Como assim “e”? Não é você que é cheio de moral para dar, não falta, futuro do país nas nossas mãos, etc?
- Moral de cu é rola. O país você não muda. Não mais. Nunca. Nem você nem uma legião de famintos. Nada muda essa merda. Então vá encher o saco de outro.
- Tá mal-humorado, é?
- Não. Tô apenas doido para tomar uma breja e você aqui, empatando na minha.
- Desculpe preocupar-me com você.
- Desculpado. Agora com licença, porque se eu quiser me prejudicar, o único prejudicado serei eu e as pessoas que querem passar o resto da vida ao meu lado. O país não depende de mim, nem de você, nem de ninguém. Aliás, se não tivesse tão pouca idade, desvirtuara você agorinha mesmo para uma cerva.
- Que boteco que você vai?
- Do Antunes, claro.
- Tô dentro.
- Não. Você tem que assistir aula, tem um compromisso com seu futuro e...
- Opa! Peraí! Futuro de quem? Meu? Então não enche o saco porque moral de cu é rola. Além do mais, também preciso esquecer.
- Boa.
- Vambora.

Senhor(es) Ca(va)lheiros...

Cético, toda sua atenção hoje estará voltada à sua canhota orelha, onde ele afixará seu pequeno radinho AM, a pilha. O medo lhe bambeia as pernas, assalta-lhe o ar. Até o fim do dia saberá se luto negro surgirá pela última pá de cal tristemente jogada sobre aquilo que um dia chamava de esperança.

Curioso, porém, é que, se negativa sepulcro derradeiro representa, afirmativa não servirá para retirar sequer uma pá de terra de sobre túmulo algum. E se esperança continuará a sete palmos, ainda assim, hoje pode ser, emblematicamente, o dia mais significativo para quem, por motivos irracionais, ama esta mátria terra.

A esperar, a esperar...

quinta-feira, setembro 6

Ressurreição?

Há alguns anos, fui a Lua. Como todos presumem ser a Lua uma esfera inabitada, revelo, perplexo: de desabitação o inferno está cheio. O trânsito local é caótico. Fluxo ininterrupto de um populacho esquálido vindo não sei se por qualquer programa secreto do governo estadunidense, ou se lá esquecidos por um extinto programa da extinta soviestikaia.
Máscaras não se usam por lá. O oxigênio é raro e o efeito devastador: morre-se vivo em poucos segundos. E morto vivo é aquilo. Nada há em lugar nenhum para ninguém fazer/ ser.
Durante os quase sete anos de residência lunar, esqueci que Terra abaixo há.
Pois ao retornar, minha readaptação foi quão mais demorada, morosa e paulatina que o previsto, pois deixei cor por lá.

Bárbaro é, tantos meses passados, renascer, mesmo que puxado por anjo cético e sádico, que descobriu na dor a ressurreição. Mas se bárbara é a dor, tal bárbara é a vista de sentir o corre-corre sangüíneo que me pergunto: se eu posso ressuscitar, por que isto aqui deve permanecer putrefazendo assim?

Vamos tocar o barco, pois.