sexta-feira, outubro 29

Devaneios

Lá em cima, no palco, três tambores dão a gravidade da situação. Acompanhados por três percurcionistas e um baterista genial, hipnotizam o público com seu ritmo.
O baixista infiltra seu som à percursão.
O guitarrista, mal intencionado, se aproveita do transe e descarrega frases psicodélicas em sua guitarra elevando o público. Ele só pára quando ele mesmo entra em transe, provocado por scratchs muito bem aplicados do dj, aumentando o clima alucinógeno na platéia.
A platéia, com a mente ativa, focada no presente, parece carregada alguns centímetros acima do chão. E flutuam.

Mesmo os mais exaltados flutuavam, como eu, que aproveitavam para liberar uma boa porção de seus hormônios masculinos, em rodas que mais pareciam uma briga, mas que eram compostas por colegas, onde o clima de amizade, por incrível que pareça, predominou com homens suados se cumprimentando ao fim de cada alavancada musical.
E o público era cada vez mais estimulado, única e exclusivamente, pelos gritos do peixe cantor.
A energia positiva que bombava o lugar e enchia os olhos e coração, era emanada do palco e reverberava, com força, na platéia, causando um efeito cíclico incontrolável.
Assim foi por quase duas horas. Os que se despiram de todos os (bons) conceitos pré-estabelidos e mergulharam fundo, de cabeça, no maracatu psicodélico da Nação Zumbi, emergiram já secos, com suas almas lavadas. O maracatu ainda carregou seus corpos por mais algum tempo.
O maracatu era de todos.
E todos tiveram a certeza que o aquele maracatu, o nosso maracatu, pesa uma tonelada.
Curioso era, no meio da multidão, escondido em roupas de uma homem alto e desengonçado, um boneco de Olinda perdido em violentas rodas.
O carnaval de Recife passou ontem por São Paulo. Foi para poucos felizardos. Foi, para muitos, felicidade.

Neste feriado, com certeza, aqueles que lá estiveram, ao tomar uma cerveja antes do almoço, ficarão, sem dúvida, pensando melhor.


"No caminho é que se vê, a praia melhor pra ficar..."
Letra de Francisco de Assis (Chico Science) em 'A Praieira', música de Chico Science e Nação Zumbi gravada no disco 'Da Lama ao Caos' de '94.

Obs.: Um forte abraço a todos os grandes amigos com qual Pernambuco, de uma forma ou de outra, me presentou, como Fabio Reis, Filipe W., Marcelo Zenga, Kátia e Daniela.



... Zumbi

Maracatu psicodélico/ Capoeira da Pesada!

Um satélite na cabeça

Como um pássaro o tempo voa
A procura do exato momento
Onde o que você pode fazer fosse agora
Com as roupas sujas de lama
Porque o barro arrudeia o mundo
E a TV não tem olhos pra ver
Eu sou como aquele boneco
Que apareceu no dia na fogueira
E controla seu próprio satélite
Andando por cima da terra
Conquistando o seu próprio espaço
É onde você pode estar agora

Letra de Francisco de Assis (Chico Science) em música de Chico Science e Nação Zumbi gravada no disco Afrociberdelia de '96.

Nação...

MEU MARACATU PESA UMA TONELADA!!!!!!!

quarta-feira, outubro 27

Só elogios

Essa aqui tem dono. Ou melhor, dona.

Como você pode ver a sua direita, eu indico - além do ÓTIMO flog do meu querido cunhado, amigo, irmão Fábio (www.fotolog.net/fabio_logo) - um site sobre literatura e afins que eu adoro muito, o Capitu.
Navegando nele, vi uma ótima materia escrita pela multi-cultural e excelente Ana Laura Diniz, a qual reproduzo abaixo o primeiro parágrafo. Dedico esta matéria à ela, Rebecca, mulher que é minha música, musa única, mulher mãe de meus filhos*.
Ela, a matéria, fala sobre o genial Manu Chao.

"Zapatista dionisíaco, ex-punk, neto de velho militante antifranquista espanhol, filho de um conhecido escritor espanhol, parisiense atípico - sem muito orgulho, deixou o local porque não se acostumava ao tratamento dispensado aos clandestinos africanos na capital francesa. Divertido, gozador e sério, ao mesmo tempo, precisava de um lugar mais calmo para morar. Escolheu Barcelona porque acredita ser o Rio de Janeiro da Europa. Magro, ágil e bom de caminhada, quando no Brasil, faz passeios incansáveis pelas praças e ruelas da Lapa, no Rio de Janeiro, onde já viveu um mês no burburinho de Santa Tereza. Dono de um molejo sedutor, fã ardoroso de capoeira e de repentes nordestinos, bebe cachaça misturado com café amargo a qualquer hora do dia. Foi assim que o conheci num boteco carioca - com calça de algodão, regata e de “as legítimas” no pé. Também gosta de tomar tequila na Bastilha e aguardente de uva na Galícia. "

Quer ler o resto? Quer ver a foto dele (eu sei que você acha ele bonito, Mein Liebe)?
Acesse:
http://win4nt293.digiweb.com.br/P.asp?p=9,10,2004,2668

(*) Frase retirada da música "Ela", de Gilberto Gil. A música que está no disco Refazenda de '75

A Felicidade, a alegria e o sorriso.

Na infindável procura pela felicidade,
nós rodamos atrás de alguma pessoa
ou rodamos vagando pela cidade.
Mas rodamos demais e rodamos a toa.

A felicidade (se ela existe mesmo)
não está em lugar algum lá fora.
Nem adianta mais procurar a esmo.
Portanto, pare de procurar agora!

A felicidade é só uma grande farsa
vendida a nós pela tv e pelo cinema.
O sorriso na cara é uma coisa falsa
que tenta deixar a vida mais amena.

O sorriso que sempre exibimos, aliás,
é apenas um subterfúgio que usamos
para tentar deixar a tristeza pra atrás.
O mais triste é que o usamos por anos.

Portanto, não se iluda, caro amigo.
E também não se sinta assim tão mal.
A tristeza é bela e serve como abrigo,
que tenta lhe impedir de ser tão boçal.

Isso mesmo! A tristeza é uma poesia,
talvez a única que temos realmente,
que mora no coração, junto da alegria.
Ela refina e lapida a alegria da gente.

Então, não se sinta mal pela tristeza.
Não é só você quem a sente sempre,
ela está sempre do coração da gente.
Viu? Nada mal. Isso é, até, uma beleza.

Um poema bobo e mal feito que escrevi assim, sem pretenção de nada, mas me convencer que esse sentimento é comum a todos, normal e, de alguma forma, saudavel.


terça-feira, outubro 26

Ela

....As pernas bambearam e ela parou. Arfava. Esbaforida. Se quisesse, se ao menos tentasse, nem conseguiria articular as palavras. Sentia o suor lhe percorrendo, doce e suavemente, as têmporas. O tronco inclinara para frente sem que ela pudesse controlar. Os joelhos, levemente dobrados, serviam de apoio para as mãos, que por sua vez eram apenas a base que tentava evitar que o tronco se curvasse ainda mais. Sentia a maresia bater refrescantemente em seu rosto.
....- A senhora...
....Ela virou, paulatinamente, o corpo. O mínimo para que conseguisse enxergar quem a chamava - cabe aqui dizer que a curiosidade feminina foi o principal impulso para que ela conseguisse se mexer a fim de ver quem falava com ela.
....-...deixou cair isso? - ele completou. Manteve-se distante dela pelo menos um metro, ele falava com o cuidado de quem procura abrir uma flor sem machucar as pétalas. Em suas mãos, O salto da sandalha que ela usava.
....Lentamente, ela deixou suas pálpebras caírem por sobre seus os olhos. Um sutilíssimo abano com a cabeça. Não tentou sorrir. Não conseguiria. Seu salto quebrara um pouco antes de parar. Foi o limite. Tinha corrido quase uma hora, sem parar e seu corpo clamava por piedade. E foi lentamente também que ela contraiu suas pálpebras de volta, deixando à mostra seus negros olhos para, então, devolver o corpo a posição anterior, pendendo pra frente.
....Ele se aproximou mais um pouco. Não a tocou. Colocou sua cabeça numa altura próxima na qual a dela estava e disse, quase num cochicho:
....- Tá tudo bem com a senhora? Quer ajuda? Eu posso lhe conseguir um copo d'água, lhe ajudar a sentar.
....De onde ele estava agora, mais próximo a ela, pode sentir, apesar do suor dela, o agradável cheiro do perfume que ela usava. Inegável que tanta preocupação era uma forma de vê-la de perto, descobrir seu nome e, quem sabe, até conseguir o telefone dela.
....A resposta dela, olhando para o chão, foi o silêncio.
....Ele entendeu que aquilo pudesse ser um sim. Cuidadosamente, deixou o salto da sandália no chão à frente dela. Olhou ao redor a procura de um bar ou um quiosque a beira-mar. Lá estava, a aproximadamente vinte metros, o bar. Foi até ele numa rápida corrida a fim de conseguir um copo com água. Quem sabe uma cadeira. Não viu o taxi se aproximar.
....Enquanto ele chegava ao bar, ela chegava no taxi. Quando ele pegou o copo com água, ela entrou no taxi. E, quando ele se virou, viu o taxi, com ela dentro, sair a andar pela avenida.
....Nem um obrigado.
....Num gole só, bebeu uma das águas mais amargas que experimentou.


Mini conto escrito por mim numa tarde qualquer.

segunda-feira, outubro 25

Toquinho & Vinícius

Eu acho, humildemente, que tinha um grupo específico, formado por quatro pessoas geniais, que, individualmente, produziram poemas, músicas ou poemas musicados, se preferir, da mais fina e bela forma que um dia algum humano sonhou em fazer. Vez ou outra, como que para mostrar para nós mortais que o segredo de tudo é a união humilde, eles faziam algumas parcerias. Dentre os quatro, que são Tom, Chico, Vinícius e Toquinho, eu classifico que:
- o mais poeta era Vinícius
- o mais erudito era o Tom
- o mais musical é o Toquinho
- a síntese é o Chico
Não a toa, acho Chico o melhor individualmente, pois sintetizava um pouco de cada. Porém ele nunca foi o melhor em algo, mas sim o mais completo. Se Toquinho, que é mais musical que todos, por exemplo, se juntava com Chico, saia uma música fantástica. Mas foi com Vinícius que Toquinho melhor se complementou. Toquinho&Vinícius, escrito assim pq assim o eram, uma coisa só, fizeram coisas que ao meu ouvido, faz arrepiar o corpo e encher de lágrima os olhos. Tocam a fundo o coração. Um exemplo disso é uma música cuja letra copio abaixo. A música e a letra são de Toquinho, mas foi gravada em parceria com Vinícius. O resultado final é maravilhoso. Já a versão solo de Toquinho para essa gravação - vejam que música e letra são de Toquinho - tem um que de "tá faltando algo". E falta mesmo. Falta Vinícius.

"Eu que andava nessa escuridão
De repente foi me acontecer
Me roubou o sono e a solidão
Me mostrou o que eu temia ver
Sem pedir licença nem perdão
Veio louca pra me enlouquecer

Vou dormir querendo despertar
Pra depois de novo conviver
Com essa luz que veio me habitar
Com esse fogo que me faz arder
Me dá medo, vem me encorajar
Fatalmente me fará sofrer

Ando escravo da alegria
Hoje em dia, minha gente
Isso não é normal
Se o amor é fantasia
Eu me encontro ultimamente
Em pleno carnaval
"

Ciclo

Tudo é um ciclo.
Tudo nasce.
E todo nascimento é algo prazeroso e lindo. É alegre. É Divino.
Mas tudo morre.
Nada é infinito, imutável.
Fingimos que não, que podemos controlar a vida ou o ciclo de algo, sendo que isso só nos faz aumentar a dor quando chega, finalmente, o inevitável momento da morte.
O segundo, a hora, o mês. Nada é eterno. Todo ciclo tem um fim. A escola, os amigos, o trabalho, os colegas, tudo um dia muda, deixando só a memória de uma felicidade distante.
O amor também é assim. Nenhum amor é infinito. nenhuma amor é eterno.
Então, o segredo da vida, qual é?
Devemos ver um nascimento e já saber de sua morte, lembrar sempre dela durante todo o ciclo de vida daquilo que nasceu. Mas como devemos enfrentar esse fato?
Curtindo ao máximo cada segundo de prazer que o novo ciclo lhe proporciona e aproveitar enquanto o ciclo não morre?
Ou devemos pisar em ovos, ser reticente, não nos entregar para não sofrer?
Infelizmente, costumo mergulhar de cabeça num ciclo, curtindo ao máximo cada momento. Porém isso me faz 'curtir' sua morte de forma ainda mais intensa.
Mas, caralho, as vezes eu queria ser mais reticente. Porque, por Deus, não agüento mais tantos fins trágicos em tantos ciclos que nasceram e que já não tenho mais, nem nunca terei ou que, talvez, na verdade, nunca tive.

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Versos de Carlos Drummond de Andrade originalmente publicados no livro "Sentimento do Mundo", Irmãos Pongetti - Rio de Janeiro, 1940.

sexta-feira, outubro 22

Pensamento do dia

"A felicidade precisa da tristeza. Não a tristeza profunda e desanimadora, mas uma tristeza em memória, uma suave melancolia. Sem a tristeza, a melancolia, não há felicidade plena. Podemos até ter noção de felicidade, mas para ser feliz mesmo, aquela felicidade bela e pura, é necessário um pouquinho de melancolia poética, em lembrança, no coração. A melancolia em lembrança é a ferramenta que lapida a felicidade."

Um insigth que tive não lembro quando, e que sempre volta a tona e cai muito bem.

Será?

Essa noite eu estive pensando se eu realmente darei a devida atenção a esse blog.
A resposta, infelizmente, a gente só saberá no futuro.
Prevejo que, um dia, eu o acabarei deixando de lado, mas me esforçarei para que isso não aconteça.
Não sei porquê, mas, de alguma forma, isso me faz lembrar Fiodor M. Dostoievski.

Aliás, leiam. Todos devem ler um livro dele.
Quem nunca leu, deve começar por 'Memórias do Subsolo'.
Indico a edição da Editora 34, com um prefácio magnífico.

quarta-feira, outubro 20

Benvindo

Cheguei, finalmente.
Mas cheguei só por chegar, só pra dizer que existo. A brincadeira, pra mim, está só começando.

Então, comecemos.
Pelo começo, claro. Bem-vindo.
Não sei ao certo ainda se esse Bem-vindo é pra quem.
Se para você, que chegou aqui ou se para mim, que chego agora.
Ainda tenho muito o que fazer por aqui.
Isso ainda não tem a minha cara, tenho que ajeitar esse template. Tenho que ter mais tempo.
Mas aos poucos eu vou acertando as coisas.
O mais importante aqui é que, quem sabe agora, você consiga, finalmente, ler um beck.

Obs.: Impossível não pensar em Mutantes ao escrever Benvindo.