quinta-feira, novembro 24

Enlouquecedor


    Eu a conheci num sonho. Nesse sonho, ela surgiu do nada, ao meu lado, com aqueles olhos lindos, aquela pele macia, aquela boca tentadora e uma tatuagem linda e mágica que me deixava de pau duro. No sonho, abraçávamos e beijávamos um ao outro enquanto nadávamos num mar cuja água era sonora e nos encharcava de música.
    Todo dia de manhã, é seu beijo que me acorda. Aí eu ouço sua voz sussurrando coisas doces e meigas ao meu ouvido. Então, sinto sua língua invadir minha boca enquanto ela me afaga o cabelo com uma das mãos e, com a outra, passeia pelo meu peito e desce minha barriga até descobrir o quanto ela me excita. E ela tem as mãos mais suaves e firmes enquanto me masturba até eu tremer de prazer. Depois ela me abraça e cuida de mim, e seu sorriso me acalma e me relaxa.
    Então eu entro no banho sozinho. Quando eu saio, ela já não está mais.
    Uma enfermeira entra no quarto sorrindo e falando meu nome, simpática. Ela me dá um remédio, dizendo que é para o meu bem. Eu engulo o remédio e vou para a sala ver televisão. A sala está cheia de gente. Sou saudado por todos, que liberam uma poltrona que dizem ser reservada para mim. O remédio me deixa meio sonolento e eu me deixo levar. Cochilo por vinte ou trinta minutos. Quando acordo, descubro que, na verdade, ela nunca esteve aqui, nunca vem me visitar. No máximo fica ali do lado de fora, olhando de soslaio, espiando pela janela, enquanto eu, aqui, no meio de tanta gente louca, enlouqueço pensando nela. E é entre esses loucos, que fazem as vezes de meus amigos, que me visto com a bombacha que eu sonhei ter ganho dela e seguro a cuia vazia fingindo ter chimarrão para beber e para me esquentar.
    Ela podia entrar, fingir que se importa, trazer um cobertor, uma blusa, um pouco de erva mate e uma garrafa térmica cheia de água quente. Ou um abraço. Qualquer coisa que me esquentasse. Mas, bah!, ela não vem. E eu sigo aqui, jogado, sozinho, olhando fixamente para a porta, que nunca se abre. Sigo na expectativa dela chegar, dela entrar; na esperança de sua visita. Mas ela nunca vem, e isso me enlouquece.

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