quinta-feira, dezembro 8

O vazio e a saudade


    Ontem sai do escritório sem destino, com a cabeça em você, presença constante, que me tomou o raciocínio lógico, e dirigi sem saber direito para onde eu seguia, até que passei em frente àquele bar, naquela esquina onde bebemos cervejas juntas pela última vez. Foi a ultima vez que nos vimos ou que nos falamos. Senti uma pontada diferente, uma saudade de algo que nunca tive, e sem que eu percebesse, ou entendesse direito o porquê, meus olhos queimaram e senti meu corpo todo arder neste inferno no qual você me colocou.
    Estacionei o carro e fiquei ali, em silêncio, quieta, não sei por quando tempo, não reparei, mesmo porque, por você, eu perdi completamente a noção de tempo, de um modo geral. E, no silêncio, deixei o vazio me invadir, deixei a dor maldita me dominar.
    Sai do carro, enfim, e me sentei a uma mesinha do lado de fora do bar, perto da mesa onde a gente se sentou daquela última vez. O bar estava vazio, claro, afinal era segunda-feira, senão por um grupo com cinco amigos – homens bebendo cerveja e fumando e rindo e falando palavrão. E eu ali, do lado, sozinha, me sentindo uma extraterrestre.
    Pedi um rabo de galo ao garçom, mas não bebi - você sabe que odeio rabo de galo. Fiquei apenas sentindo o cheiro da sua boca até ter a perfeita noção de que seus lábios tocavam os meus, naquele beijo enlouquecedor que só você deve saber dar e que eu só provei em sonhos. Junto com o rabo de galo, o garçom me trouxe uma porção de torresmo, com limão, do jeito que você sempre gostou de comer. Pedi também uma cerveja e um maço de cigarros, exatamente como da última vez que estivemos ali. Pena que dessa vez você não estava.
    Aliás, como é isso de me menosprezar, ignorar que te amo, me jogar de lado só porque eu me apaixonei por você? Como é ser o único ser humano que não me deseja? Como é ser quem me faz sofrer as dores de todos os amputados? E por que insiste em me ignorar, em não atender minhas ligações, não responder meus e-mails desesperados clamando pelo direito de ouvir sua voz uma última vez, de ver seus olhos novamente? Cadê a humanidade em você, para me tirar desse fundo de poço em que você mesma me meteu?
    Antes de terminar a cerveja, decidi sair do bar, dar uma volta, ou qualquer coisa para tentar te esquecer. Rodei sem rumo e a necessidade de ver alguém, ver pessoas, me estrangulava. Decidi ir ao Clube 6Sixxx6, o único lugar aberto nas noites de segunda -feiras, e assim, claro, tive que passar na rua das putas. Agora, me diga, por que eu tenho a sensação de que todas elas são muito mais gostosas do que eu? É até difícil entender por que uma mulher gostosa daquele jeito foi virar puta. Talvez por isso que às vezes sinto vontade de passar uma noite na rua, só para ver como é.
    Estava pensando nessas coisas quando uma japonesa, que me lembrou você, mexeu comigo. Eu devia estar com uma cara péssima.
    “Gata, não fica sozinha, não. Vamos sair”, ela disse algo assim. Era linda.
    Sem saber direito o porquê, parei o carro, voltei de ré e perguntei o preço.
    “Para você? Olha, você é tão linda e tão gostosa que te chuparia de graça”, ela disse apoiando-se na porta do carro e deixando assim eu ver os seios lindos e duros dela. Destravei a porta e ela entrou no carro. Fomos até um hotel barato que tinha ali na rua mesmo. Faria bem para mim, sabe, sair com outra mulher, estar com alguém, esquecer um pouco você.
    Mas não esqueci.
    Fiquei de olhos fechados enquanto ela me chupava. Olhos fechados e pensando em você, imaginando que era sua boca em mim. Mas não gozei. Não consegui. Faltava você. Falta você.
    Saímos do hotel e a deixei na esquina onde a encontrei. Ela não quis receber, disse que era puta de palavra, que tinha tido tesão em mim e por isso o fez de graça. Agradeci e dei-lhe um longo beijo na boca de despedida. Só no caminho de volta que percebi: nem perguntei seu nome.
    Parei o carro em frente do meu prédio. Não entrei. Fiquei ali, sozinha, ouvindo Garbage, tensa, sem conseguir sair do carro, sem conseguir ter sono e sem conseguir dormir. Somente quando o Sol nasceu, eu decidi sair de lá, entrar em casa, tomar um banho, trocar de roupa e voltar para o trabalho.
    Está difícil sem você. Insuportável, na verdade. Uma merda você e esse maldito vazio que não me deixa mais viver. Uma merda.

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