quarta-feira, junho 15

Solidão como companhia

Ele chegou em casa tarde. As luzes estavam todas apagadas, a televisão deligada, como imaginava
Cuidadosamente fechou a porta. Não queria fazer barulho. Não queria acordar ninguém.
As luzes permaneceram apagadas. Calmamente, tirou o paleto e colou sobre a cadeira na sala de jantar.
Nas pontas dos pés, caminou até a cozinha, ainda no escuro.
Abriu a geladeira para pegar o prato gelado de strogonoff. Abriu o microondas para esquentar, mas ao pensar nos bips que o aparelho faria ao final, desistiu.
Comeu em pé mesmo, com o prato sobre a pia, e a comida gelada. Na primeira garfada, lembrou que nunca gostara de comida gelada. Perdeu o apetite.
Propôs uma troca justa com a geladeira: o prato gelado pela garrafa de Coca. Jantou a garrafa num gole só.
Ainda na cozinha, tirou o sapato para o mínimo de barulho. Foi até a varanda, onde perdeu 15 minutos olhando o nada, só sentindo a maresia bater nas narinas.
Cuidadosamente, girou a maçaneta do quarto. Foi ao banheiro, trocou a roupa pelo pijama. Tudo com muito cuidado, com muito silêncio.
Parou em frente a cama. A cama estava desarrumada. O edredom embolado. Mas não tinha ninguém. Nem nunca teve.

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