quinta-feira, janeiro 12

O Desaparecido

Quem? Eu? Desaparecido?
Não, não, não.
O Desaparecido é Karl Rossman (ou Karl Homem-Cavalo), personagem central do livro O Desaparecido (ou Amerika), de Kafka, que eu terminei de ler, mas esqueci de comentar aqui e de trocar o livro no meu lateral ali (já troquei, calma).
Vamos ao livro, enfim.

Definitivamente, Kafka é um dos meu quatro escritores de cabeceira (para quem não sabe, eu o coloco ao lado de Dostoiévski, Cony e Henry Miller), mesmo com Ela insistindo em me dizer que na USP os leitores de Kafka são considerados loucos, literalmente.
O Desaparecido (ou Amerika) é um livro angustiante, no melhor estilo Kafka. É um livro extremamente perturbador, como só Kakfa o é. É um livro que incomoda, incomoda muito, como só nos livros de Kakfa. É um livro de humor-negro, como só Kafka sabe escrever.
Para quem leu O Processo e achou o livro angustiante, perturbador, incômodo, e não conseguiu terminá-lo (relaxe, afinal nem o Kafka conseguiu terminá-lo), nem chegue perto de O Desaparecido (ou Amerika). Isso porque o personagem central de O Desparecido (ou Amerika) não se ajuda, diferente do que ocorre em O Processo.
Em ambos o livros o personagem central vê seu mundo desabar, ver que todos o tratam com frieza, com meias verdades, com dissimulações, e vê tudo dando errado para ele, entrando num poço sem fundo, sabendo que não tem saída. Mas em O Desaparecido (ou Amerika), diferentemente de K., em O Processo, Karl Rossman não tem dicernimento, não parece ser inteligente; ele sente que tem algo errado, mas aos poucos se convence que não, que a vida é assim mesmo. Karl Rossman é uma besta, uma mula; é burro e inocente demais. Muito imaturo. Não é só o mundo que se volta contra ele. Ele mesmo não se ajuda. E você vai lendo e vai sentindo um vazio pela vida de Rossman, que é incrível.
Para piorar o incômodo, Kakfa consegue fazer um livro ter seu principal suspense, sua trama central, ser "atrapalhada" pelo excesso de detalhes que Kafka narra. Somente Kakfa narra com tanto brilhantismo tudo aquilo que circunda a cena que está a acontecer. E é com essa riqueza de detalhes geniais, engraçadas, divertidas, que Kafka faz a leitura seguir num rítmo menos acelerado. Kafka vai te freando quando você mais quer acelerar.
Kafka foi gênio. Descobriram isso tarde. Uma pena.

Ler Kafka é uma das experiências mais ricas que a literutara pode oferecer (ou pôde me oferecer até aqui).

5 comentários:

  1. Eu comecei a ler "O Processo" em outubro mas como eu estava meio surtada (pra variar, hehehe) tive que parar um pouco e ler outro livro. Agora voltei mas tô emperrada no capítulo do industrial, do pintor e não sei de mais quem :D Acho que vou pular para o próximo capítulo afinal, além do livro não estar finalizado, ele não está em perfeita ordem cronológica. Sim, sim: Kafka foi gênio. Depois dele também passarei pro Saramago. Beijos

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  2. Não pule. Vai por mim.
    Vc assistiu Amnesia?
    No DVD do filme tem uma versão com a ordem cronológica certa. Uma merda.
    Se vc pular o capítulo para lê-lo depois, estara, de uma certa forma, mudando a arte do autor.
    Pense nisso.

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  3. Também li Kafka (Metamorfose, O Processo - esse não consegui ir até o fim, quase entrei em depressão).
    Do Cony também li Quase Memória.
    Adoro Gabriel García Marquez, Júlio Cortazar, Letícia Wierzchowski (Prata do Tempo).
    Paul Auster também está entre meus favoritos (Timbuktu, O Livro das Ilusões).

    Se lembrar falo de outros.

    Boas leituras!

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  4. Ah, eu não pulei o capítulo não... Era brincadeirinha. Foi um capítulo difícil mas agora acho que estão caindo as fichas. Não sabia dessa do DVD do Amnésia. Adorei o filme mas vou passar longe dessa versão "certa".

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  5. Silvio, você realmente é muito bem vindo.
    :O)
    Belo gosto literário.
    Metamorfose é fantástico! Mas tente ler, do Kafka, Carta ao Pai. Pesado, mas excelente.

    Dani, que bom que você não pulou o capítulo. É isso, garota! Força!
    ;o)

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