segunda-feira, setembro 26

Olavo e Luana

Olavo e Luana se conheceram na pista de cooper do Pepê em uma trombada, que levou, acreditem, Olavo ao chão.
Depois de um singelo pedido de desculpas, Olavo, claro, percebendo que Deus jogara sobre ele uma pequena beldade de vinte e quase nada de idade, não titubeou em dizer aquela velha e batida frase do toma lá dá cá que tanto é usado por sujeitos sem criatividades quando querem chegar em alguma mulher. Verdade seja dita que Olavo foi criativo dizendo que, com a queda, perdera sua carteira e que, portanto, Luana, como desculpas, teria que lhe pagar a água de coco que ele estava indo comprar exatamente no momento da trombada.
Ligeiramente resignada com a proposta, porém impressionada com o um metro e oitenta e qualquer coisa de Olavo, que, quando visto dos um e sessenta e um pouco menos de Luana, chegavam a assustar alguns desavisados, aceitou a proposta. Assim, pelo menos, poderia observar melhor o peitoral de Olavo que o Sol não queria deixar que visse.
Proposta aceita, água de coco tomada, meia dúzia, se muito, de palavras trocadas e o telefone de um já estava na agenda do outro com promessas de saírem juntos na noite seguinte.

Isso tudo aconteceu, acreditem, numa quinta-feira de manhã, pouco antes de ambos irem para o seu respectivo trabalho.
Olavo não ligou na quinta. E na sexta, só ligou após as dezoito horas, no exato momento em que a auto-estima de Luana escorria pelo ralo da pia do banheiro do trabalho. Afinal, pombas, por que, diabos, Olavo pediu seu telefone? O canalha não ia ligar? Dois dias. Dois dias!
“Eu sou tão desinteressante assim? Por que ele não liga?!”
Ele não leu a mente dela. Mas Olavo tem trinta e pouquinho. Solteiro, porém apreciador da espécie feminina, sabia que precisa morder um pouco antes de voltar assoprar. Assim Luana não chegaria ao encontro com moral grande o suficiente de forma que impedisse que fossem para a cama.
Sexta à noite, Olavo a pegou em casa e foram para uma festa na casa de um amigo de Luana, no Recreio, numa cobertura bacana.
Ficaram. Mas Olavo não comeu Luana na sexta. O abusado até experimentou, com uma mãozinha levemente roçada aqui e ali, mas ela fez jogo duro, tirando cordialmente a mão dele de onde ela mais queria que a mão estivesse.

De qualquer forma, sábado em casa e Luana só queria que Olavo ligasse. Ela morreu de tesão por ele. E rezava para que o jogo duro de sexta não o tenha feito desistir de algo.
Mas Olavo não ligou. Não podia ligar. Não devia, nunca, atender com muita precisão as expectativas mais latentes que a mulher tem. Apenas mandou um SMS mentiroso dizendo que estava em Arraial com alguns amigos que passaram em sua casa e o levaram de repente.
Ela respondeu com um “que pena” e outro “divirta-se”.
Mas Domingo, antes do meio-dia, Olavo ligou:
- Praia?
- Que horas?
- Passo aí em meia hora.
“Caralho, meia hora? Não! Preciso tomar banho, fazer a unha, depilar mais um pouco a virilha (afinal você vai me comer hoje, não vai?)”.
- Ah... Meia hora? Err... claro! Tudo bem.
- Tudo bem mesmo?
- É que eu estava indo no mercadinho agora comprar algumas coisas que está faltando em casa... – E não faltava nada, claro.
- Bom, uma hora?
- Não! Meia hora mesmo – vai que ele desiste - Assim que você chegar, interfone. Qualquer coisa você sobe e espera aqui.
“E já vai me comendo aqui mesmo, antes da praia, porque to na TPM morrendo de tesão”

Trinta e oito minutos depois, Luana passava óleo de amêndoas no corpo recém depilado, quando o interfone tocou.
- Oi.
- Cheguei.
- Pode subir.
- Muito cedo?
- Não. Só preciso terminar de por o biquíni.
“Bom Olavo, tenha calma. Não demonstre que você só quer comê-la. Sem muita mão. Vá devagar. Calma que você come ela hoje. Tenho que comer ela hoje, porra!”

Não foram à praia.
Às quatro horas da tarde, depois da quarta, exaustos, ambos deitados pelados na cama de Luana, Olavo olhava o teto branco enquanto Luana descansava nos ombros dele. O rádio começou a tocar Legião. Eduardo e Mônica.
Olavo cantarolou junto.
- Cara, me amarro nessa música. Posso aumentar o volume? – perguntou ele.
- Você gosta de Legião?
- Por quê? Você não?
- Detesto. Acho o Renato Russo um mala de primeira.
- Porra, não fale assim. O cara já morreu. E era um gênio.
- Gênio? Tá. Renato Russo era um gênio. E Dostoievski era um ET. Só se for.
- Quem?
- Dostoievski.
- Ah - disse Olavo rindo – com esse nome o cara certamente era um ET.
- Você não lê?
- Leio, claro. Mas não leio Paulo Coelho – disse Olavo correndo a vista pelo armário de livros do quarto de Luana.

Depois que Olavo foi embora, Luana se arrependeu de ter dado para um cara que nunca mais vai ver. Pelo menos ela não o quer ver novamente. Afinal nem meter bem ele mete.
E Olavo, no carro, pensou “Bom, pelo menos é gostosa. Mete nada, mas é gostosa.”.

2 comentários:

  1. Nuooossa
    Os homens são escrotos né? Sem sensibilidade nenhuma.
    ô primo, como vc colocou essa verificação de letras? meu blog tá ficando cheio de spam, devem ser homens desocupados.

    ResponderExcluir