Acordei e, desde há muito até a hora em que desliguei a tevê para sair de casa, banho tomado, estômago cheio, dentes limpos, cabelo naquela porcaria de sempre, batom na boca, brinco bonito, tudo estava muito bem.
Entrei no carro, tudo ótimo. Passei na casa da Carla, embreagem desce, sobe, desce, sobe. Tudo bem.
Mas estacionei, chave na mão, motor desligado, e quando pisei fora com o pé esquerdo na sandalinha salto alto, saindo do carro, senti a dor na lateral esquerda do pé. O mesmo local que eu havia fraturado sete anos atrás quando o salto quebrou em plena Paulista
Mas consegui caminhar. Dor. Dor. Dor.
Elevador sobe. Caminho até a dor, para a mesa, trabalhar.
Sandália no chão. O pé inchou, como inchou sete anos atrás.
- Está vendo aqui? Fissura. O osso está fissurado
- Como assim, Doutor?
- Rachou. Seu osso do pé rachou. Vai ter que engessar.
- Ah, não! Engessar? Não. Estava tudo bem até a hora que eu saí do carro. Isso 'tá errado.
- Não posso fazer nada. A chapa não mente. 'Tá aqui, ó: fissurado.
- Quanto tempo?
- Bom, é um local de pouca irrigação sangüínea. Então eu acho que mês, mês e meio.
O gesso está aqui, ó, até o joelho.
Muleta na mão e algumas amigas a tira-colo, a noite de S. Paulo será meu novo lar. Não sei se por dó ("Coitadinha, 'tá com a perna engessada. Vou comê-la para ela se sentir melhor) ou por algum tipo de fetiche secreto masculino ("Nossa! Gesso no pé! Que tesão! O pessoal do escritório nem vai acreditar que comi uma mulher com gesso no pé"), mas o assédio aumenta incrivelmente com o gesso (conseqüentemente, o sexo também aumenta)
Mas, de qualquer forma, além disso, já tenho três velas acessas. Se o moço que tirar o gesso for gatinho de novo, eu choro, fujo, saiu correndo e não tiro o gesso. Você tem idéia do que é para uma filha de portugueses ficar quase dois meses sem depilar a perna?
obs.: da série "Coisas que a falta de inspiração faz com a gente".
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