domingo, setembro 18

Traição

Já estava tudo combinado desde semana passada. Naquele dia ele sairia para o almoço um pouco mais tarde, por volta das duas horas, pegaria seu carro no estacionamento, encontraria a Selma, do estoque, na porta da lanchonete Joinha, passariam toda à tarde no Motel e, de lá, ele pegaria sua esposa no trabalho, como de costume. Tudo perfeito. Nenhuma bandeira seria levantada, nada poderia dar errado.
E assim foi.
Selma era uma máquina de transar. Além de gostosa, ela era ótima de cama. Sabia sempre o que fazer e como. Sabia ser submissa quando tinha que ser, e sabia ser mais ativa quando necessário. A mão sempre estava no lugar certo, do jeito certo, no tempo certo. A boca também. Fazia tempo que ele não tinha uma transa tão bem feita. Empolgado e animado, ele rendeu, consequentemente, muito mais do que o normal. Selma ficou impressionada. Ele também. Banho rápido e secador nos cabelos, estavam prontos para ir embora.
Mas uma coisa ele não planejou, esqueceu, não pensou. Como Selma iria para casa depois? Sem outra solução, claro, levaria Selma para casa – ele não deixaria uma moça como ela pegar o metrô e depois o ônibus, coisa que não estava acostumada; afinal ela não tinha vindo de carro, pois ele tinha a orientado assim.
E então, aquilo que parecia um problema, logo se multiplicou. Selma morava a quarenta minutos dali, já contando o trânsito. Porém para ir para a casa de Selma, ele teria que passar bem em frente ao prédio onde sua esposa trabalhava. E ela não poderia ver Selma.
Ligou para ela:
- Querida, estou entrando numa reunião sem horas para acabar. Não poderia lhe pegar hoje no serviço. Pegue um táxi e vá para casa, tudo bem?
- Tudo. Mas não chegue muito tarde. Cuidado, tá bom?
- Pode deixar.
Ela, a esposa, sabia que Leandro, colega que trabalhava com ela, passaria perto de sua casa para ir embora e arriscou um inocente pedido de carona.
- Tudo bem, sem problemas. Deixo você na porta de sua casa.
- Ah, não precisa. Não quero incomodar. Eu salto na esquina mesmo.
- Ora, imagine que eu deixarei você na esquina. Não me custa nada. Não se preocupe.
Como ao passar em frente ao prédio onde sua esposa trabalhava, ele já tinha alertado à Selma que se abaixasse, ela não pensou duas vezes e uniu o útil ao agradabilíssimo gesto de, antes de abaixar, abrir o zíper da calça dele. Selma mal enchera a boca quando ele viu sua esposa entrar no carro do tal colega de trabalho. Anotou a placa do carro do sujeito, para precaução. Zangou de tal forma que Selma teve dificuldade de fazê-lo gozar.
Na volta para casa, ligou para sua esposa dizendo que já estava voltando. Ela já estava em casa, sem nenhum problema. E ele, como que para se mostrar preocupado, perguntou:
- Pegou o táxi direitinho?
Ela, para não dar asas à imaginação dele, e para não ter aborrecimento, mesmo sem ter feito nada e sem ter absolutamente nada a dever, respondeu que sim.

Pronto. Era o que bastava: ele se descobriu corno.
Ao chegar em casa:
- Oi, tudo bem? Que bom que chegou. A janta já está pronta.
- Antes da janta, gostaria de lhe perguntar uma coisa.
Ela sentiu o tom preocupado na voz dele. Parou, olhou para ele.
- Pode perguntar.
- De quem é o carro tal, cor tal e placa tal?
Ela enrubesceu na hora. Enrubesceu simplesmente porque sabia que ela tinha pego sua mentira e ela não sabia mentir. Odiava mentir e sentiu-se envergonhada por tê-lo feito.
Tentou responder qualquer coisa, mas a voz não veio. E, quando veio, ela gaguejou. Era o que bastava para ele.
Tiverem uma discussão severa. Ele usou os mais baixos adjetivos para se referir a ela. Ela não estava conseguindo acreditar que aquilo estava acontecendo. Ela, inocente. Mas não tinha argumentos que provassem.
Não jantaram.
No dia seguinte pela manhã as coisas dele estavam separadas e ele se mudava para um hotel no centro. Era temporário. Apenas para aguardar o trâmite legal da separação que seus advogados estavam cuidando.

2 comentários:

  1. A vida como ela é, meu amigo! Já estive nessa situação, so que com um diferencial: estava grávida! Enfin...

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  2. Nossa, Rê...
    Foda.
    E eu nem lembrava deste texto. Gosto muito dele. :)

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