Quando ele completou 30 anos, há alguns meses, eu esperava que alguma crise viesse e estava preparada para ser a melhor companheira que alguém possa ser. Afinal, além dela, a crise, já estar se anunciando desde seus 28 anos e além de todos os estudos que realmente indicam a existência clara da crise dos 30 (e a dos 40, e a dos 50, e a dos 60...), eu, há 4 anos, quando completei meus 30, tive minha crise e ele foi tão complacente comigo, que imaginava o quanto em troca ele estava plantando para receber.
O que eu não esperava era que sua crise dos 30 seria o prenúncio da crise dos 40, vindo 10 anos adiantados.
Mas pelo menos foi paulatina.
Primeiro ele finalmente parou de fumar. Fumava há tanto tempo que, da mesma forma como é difícil imaginar um antigo quatro olhos, velho conhecido, sem óculos, ninguém nunca o imaginara sem o cigarro. Pois parou.
Passados 2 meses ele riscou a cervejinha com os amigos. Parara de beber. Afirma que é temporário, só para limpar o organismo. Mas pelo que eu o conheço, contando somente os anos que estamos casados, para limpar o álcool do organismo dele, teremos um sujeito sóbrio pelos próximos 10 anos. E então virá a crise dos 40 e é melhor eu nem pensar nisso.
Quando ele finalmente passou a basear sua alimentação numa dieta rica em verde e pobre em carnes e carboidratos, senti que sua tão famosa e bem cultivada pança estava, finalmente, incomodando-o tanto quanto a mim, e a pança finalmente estava com os dias contados.
Então ele quis entrar numa academia. Fazer musculação, Yoga e natação. Para que você entenda a gravidade da situação, ele nunca, jamais, tinha sequer colocado seus pés em alguma academia. Era contra, até.
A partir daí, instalou-se confortavelmente atrás de minhas duas orelhas algumas gordas pulgas. Era tudo isso um forte sinal da crise em si ou era o sinal que alguma outra mulher aparecerá em sua vida? Procurei, dia após dia, refugar essa segunda possibilidade. Trabalho árduo e intenso.
A troca de carro, achei natural. Afinal o carro dele estava com 10 anos e o seguro começaria a ter o preço tão alto, que o valor da parcela de um carro zero somada ao valor de seu seguro seria mais em conta. Mas que não precisava ter sido um Mercedes Classe A, não precisava mesmo.
Hoje quando eu passava por uma sossegada e escura rua da Zona Oeste, vi seu carro sair de um Motel. E era certeza, viu? Conheço sua placa de cor e salteado. Os vidros filmados impediam-me de identificar quem era. Então eu “calmamente” bati meu velho Gol contra seu Classe A. Ele estava parado na esquina, esperando o trânsito permitir sua entrada; e eu estava acelerando a “apenas” 60km/h. Quando a primeira pessoa desceu do carro, um homem, abobalhado pela batida, e não era ele, gelei. Era uma bichinha de quase 20 anos. Logo depois, desceu ele...
Não. Não morri. Estou vivinha. Sou mais forte. Sou forte e não morreria por um cara de 30 anos com salto plataforma e batom. Também não o matei. Não sei porquê. Honestamente.
Hoje a crise finalmente se instalou. Em mim. E que se foda sua crise dos 30 anos e o casamento, encerrado ali mesmo, porque acho que essas porras, na verdade, nunca existiram para ele!
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