Ontem sai do escritório sem destino, com a cabeça em você,
presença constante, que me tomou o raciocínio lógico, e dirigi sem saber
direito para onde eu seguia, até que passei em frente àquele bar, naquela
esquina onde bebemos cervejas juntas pela última vez. Foi a ultima vez que nos
vimos ou que nos falamos. Senti uma pontada diferente, uma saudade de algo que
nunca tive, e sem que eu percebesse, ou entendesse direito o porquê, meus olhos
queimaram e senti meu corpo todo arder neste inferno no qual você me colocou.
Estacionei o carro e fiquei ali, em silêncio, quieta, não sei por
quando tempo, não reparei, mesmo porque, por você, eu perdi completamente a noção
de tempo, de um modo geral. E, no silêncio, deixei o vazio me invadir, deixei a
dor maldita me dominar.
Sai do carro, enfim, e me sentei a uma mesinha do lado de fora do
bar, perto da mesa onde a gente se sentou daquela última vez. O bar estava
vazio, claro, afinal era segunda-feira, senão por um grupo com cinco amigos – homens
bebendo cerveja e fumando e rindo e falando palavrão. E eu ali, do lado, sozinha,
me sentindo uma extraterrestre.
Pedi um rabo de galo ao garçom, mas não bebi - você sabe que odeio rabo de galo. Fiquei apenas sentindo o
cheiro da sua boca até ter a perfeita noção de que seus lábios tocavam os meus,
naquele beijo enlouquecedor que só você deve saber dar e que eu só provei em
sonhos. Junto com o rabo de galo, o garçom me trouxe uma porção de torresmo,
com limão, do jeito que você sempre gostou de comer. Pedi também uma cerveja e
um maço de cigarros, exatamente como da última vez que estivemos ali. Pena que
dessa vez você não estava.
Aliás, como é isso de me menosprezar, ignorar que te amo, me jogar
de lado só porque eu me apaixonei por você? Como é ser o único ser humano que
não me deseja? Como é ser quem me faz sofrer as dores de todos os amputados? E
por que insiste em me ignorar, em não atender minhas ligações, não responder
meus e-mails desesperados clamando pelo direito de ouvir sua voz uma última
vez, de ver seus olhos novamente? Cadê a humanidade em você, para me tirar
desse fundo de poço em que você mesma me meteu?
Antes de terminar a cerveja, decidi sair do bar, dar uma volta, ou
qualquer coisa para tentar te esquecer. Rodei sem rumo e a necessidade de ver
alguém, ver pessoas, me estrangulava. Decidi ir ao Clube 6Sixxx6, o único lugar
aberto nas noites de segunda -feiras, e assim, claro, tive que passar na rua
das putas. Agora, me diga, por que eu tenho a sensação de que todas elas são
muito mais gostosas do que eu? É até difícil entender por que uma mulher
gostosa daquele jeito foi virar puta. Talvez por isso que às vezes sinto
vontade de passar uma noite na rua, só para ver como é.
Estava pensando nessas coisas quando uma japonesa, que me lembrou
você, mexeu comigo. Eu devia estar com uma cara péssima.
“Gata, não fica sozinha, não. Vamos sair”, ela disse algo assim. Era
linda.
Sem saber direito o porquê, parei o carro, voltei de ré e
perguntei o preço.
“Para você? Olha, você é tão linda e tão gostosa que te chuparia
de graça”, ela disse apoiando-se na porta do carro e deixando assim eu ver os
seios lindos e duros dela. Destravei a porta e ela entrou no carro. Fomos até
um hotel barato que tinha ali na rua mesmo. Faria bem para mim, sabe, sair com
outra mulher, estar com alguém, esquecer um pouco você.
Mas não esqueci.
Fiquei de olhos fechados enquanto ela me chupava. Olhos fechados e
pensando em você, imaginando que era sua boca em mim. Mas não gozei. Não
consegui. Faltava você. Falta você.
Saímos do hotel e a deixei na esquina onde a encontrei. Ela não
quis receber, disse que era puta de palavra, que tinha tido tesão em mim e por
isso o fez de graça. Agradeci e dei-lhe um longo beijo na boca de despedida. Só
no caminho de volta que percebi: nem perguntei seu nome.
Parei o carro em frente do meu prédio. Não entrei. Fiquei ali, sozinha,
ouvindo Garbage, tensa, sem conseguir sair do carro, sem conseguir ter sono e sem conseguir dormir. Somente quando o Sol nasceu, eu decidi sair de lá, entrar
em casa, tomar um banho, trocar de roupa e voltar para o trabalho.
Está difícil sem você. Insuportável, na verdade. Uma merda você
e esse maldito vazio que não me deixa mais viver. Uma merda.
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