quinta-feira, abril 5

Sensações musicais

Engraçado esse negócio que acontece com a música e ela. Ela, não sei bem como, não as ouve música. Ela sente. Ela me diz que a música parece que lhe entra pelos poros, pelo nariz, vai ao sangue, atinge pulmões, aperta ou afrouxa o coração.
Foi por isso que ela ouve desde Trio Virgulino até, deixe me ver... Metallica.
Eu acho isso engraçadíssimo, curioso. Principalmente pelo fato de que eu não ouço nada cantado em inglês. Não é preconceito, é mania. Eu não entendo o que esses gringos cantam, então prefiro não ouvir, sabe? Ouço MPB, forró, baião, essas coisas.
Mas ela não. Além de ouvir MPB, essas coisas, ela ouve Metallica. Ouve outras coisas também, que para mim nem música são, aliás. Influencia do pai. Incrível como o pai dela era. Só ouvia essas porcarias de rock pesado. Adorava aquele tal de Kiss. Um horror.
Mas, enfim, eu falava dela, porque ela sente a música, vai além de simplesmente ouvir. Sente. Quantas e quantas vezes eu já não a peguei chorando, só por causa da música que estava tocando, eu já nem sei. Parece que a música, talvez mais do que um amor perdido, pode machucá-la. Claro que também pode animá-la, fazer o inverso com ela. Aliás, curioso como a música tem o poder de fazê-la mudar de humor. Ela pode ir da tristeza, do desânimo, para um ânimo sem fim. Como pode fazer o inverso, pode machucá-la. E isso que me atormenta um pouco. Eu vivo falando para ela:
- Filha, porque você ouve esse disco, se você sempre chora com ele?
Mas ela diz que eu não entendo, que eu isso, que eu aquilo.
- Mãe, sabe que o simples fato de você não entender isso me deixa aliviada?
Não entendo mesmo. E não concordo. Mas ela gosta, faz bem para ela. Vai saber.

...

Demorei dois anos para aceitar, entender e/ ou gostar do mais recente CD do Zeca, Baladas do asfalto... Tudo porque a característica que mais gosto nas músicas do Zeca são a diversidade, e a riqueza sonora e cultural (musicalmente falando), coisas completamente inexistentes no Baladas do Asfalto..., algo que sempre julguei como preguiça, desleixo ou qualquer coisa que o valha. O CD não me descia. Eu não tinha paciência para ouvi-lo ou para sequer tentar fazê-lo.
Essa semana, curiosamente, do nada, devido a algumas pessoas, tive que ouvir o CD. Eis que, de repente, ouço um click em algum lugar perdido no tempo e no espaço e o CD fez todo o sentido para mim. Musicalmente ele continua igual, faltando algo em relação aos trabalhos anteriores do Zeca. Porém eu entendi o disco. E isso fez toda a diferença.
A falta da diversidade e da riqueza cultural sonora não é preguiça, desleixo, nem nada que o valha. É a angústia. O CD, aliás, é a angústia em si só. Não faz sentido se posto com outras obras do Zeca, senão Líricas, mas isso não lhe tira qualidade. Pelo contrário, tem valor.

O problema é o pré-conceito.
Sempre que ouvimos algo de qualquer artista que conhecemos, antes da música começar, armamo-nos com todos os conceitos que temos do artista.
Ideal seria despirmo-nos de nossas ideologias musicais, dos conceitos por nós pré-estabelecidos. Só assim, quando o fiz, consegui achar o valor do Baladas do asfalto...

3 comentários:

  1. Anônimo6/4/07 21:54

    Ela tem bom gosto.

    Quanto ao Zeca, não conheço quase nada. Só "o cara mais underground que eu conheço é o diabo" e Flor da Pele, que é linda. Mas ontem ia ter um show divertido no Sesc Pompéia: Zeca Baleiro com Odair José. Pensa só os dois cantando a música da "pírula"!

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  2. Será que ela tem?

    Não conhece? Flor da Pele?
    Bom, vou lhe enviar a discografia dele em MP3. Depois vc me diz.

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  3. E eu continuo na leitura, agora com imagens! (iPad por algum motivo engoliu todas ontem!)
    E quanto ao Zeca: esse é o meu cd predileto... Justamente pq ele canta na minha alma!
    Acho que entendo o que ela sente! rs

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