Discurso proferido honrosamente por André, no bar no Oswaldo, no mais recente encontro pós-trabalho, quando Anderson cismou em pedir uma Antártica:
“Que a Bohemia é a cerveja que deixa nossa boca com o melhor gosto final, entre todas, isso é fato, desculpem-me os discordantes, indiscutível.
Agora, será que após a décima quarta garrafa, o gosto final realmente importa?
Lembro uma época de minha infância, quando refrigerante era só em garrafa de vidro retornável e cerveja em lata ou garrafinha era raro e caro, fazendo com que nossas casas tivessem caixas de garrafas, vazias ou cheias, dependendo de haver ou não algum evento próximo, quando a Antártica era realmente boa, e havia ágio para se comprar cerveja (acreditem ou não, mas havia ágil para se comprar cerveja) e a Antártica era uma das mais caras, contrariamente de hoje, onde ela é ruim e barata, e meus tios, claro, só bebiam Antártica e não suportavam qualquer outra cerveja que fosse, nem Brahma, meu pai comprou umas doze garrafas de Antártica e o resto todo de Malt 90 (lembra?). Engenhosamente, ele, antes de devolver os cascos à adega para comprar as supracitadas, retirou, cuidadosamente, os rótulos das garrafas vazias de Antártica. E antes de colocar as garrafas cheias para gelar, tirou, cuidadosamente, os rótulos das garrafas de Malt 90, substituindo pelos rótulos de Antártica. Ele então, claro, serviu primeiramente as Antárticas originais e, quando estas acabaram, passou a servir as falsas, as Malt 90, porém tomando sempre o cuidado dele mesmo, ou eu, abrirmos as garrafas para ninguém ver a tampinha.
O resultado foi o óbvio. Já ébrios, ninguém na festa reclamou do gosto da Malt 90. Placebo.
Mas o que eu dizia, na verdade, nada tem a ver com isso.
Isso foi só para responder a pergunta: será que após a décima quarta garrafa, o gosto realmente importa? Claro que não. Na verdade o gosto fica de lado bem antes disso.
Mas, venhamos e convenhamos, é muito mais digno vomitar Bohemia do que meia Bohemia e meia Antártica. Fora o orgulho e a reputação. Imaginem você, já bêbado, decide pedir Antártica, para economizar no bolso, já que o gosto você não sente mais. Eis que chega ao bar, sem mais nem menos, aquela morena divina que você azara, mas que nunca lhe dá bola. Honestamente, ela o vendo tomar Antártica, você acha que, se antes suas chances eram mínimas, agora você terá chance alguma com ela? Esquece.
Por isso mesmo que cerveja, estejamos bêbados ou sóbrios, meus amigos, nessa mesa, filha da puta algum beberá Antártica.
E tenho dito!”
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