quinta-feira, novembro 17

Beto e Julia. E Beto

Foi o Beto quem nos apresentou. Ele vinha falando dela já fazia um tempo, da tal amiga dele do trabalho, gata, inteligente, divertida, parecida comigo, etc. E sempre falou sobre o quanto eu precisava conhecê-la, que íamos nos dar bem, que ela era a mulher perfeita para mim, etc.
A única preocupação do Beto era quanto a integridade dela.
- Carlão, ela é minha amiga. Adoro ela. Vou apresentá-los, mas não tô falando que é para você comer e cair fora. Por favor, não maltrate ela.
Então o convenci que não a faria mal, afinal ele já me conhecia há tanto tempo, desde do colégio, sabe que não sou filha da puta com mulheres, e tudo mais.
Alguns dias depois eu a conheci, num churrasco da empresa do Beto. Julia. Gata, linda, corpão, deliciosa. Puxei Beto de canto:
- Caralho! Não pensei que ela fosse tudo isso!
A gente se deu bem. E, ajudados pela cerveja gelada, o papo rolou fácil, solto, gostoso. Divertidíssima, Julia.
Final do churrasco, fomos embora, todos os três no mesmo carro: eu, Julia e Beto. No caminho, o Beto foi o primeiro a descer. Então levei Julia até a casa dela. Mas, acreditem ou não, não ficamos. Ficamos sim foi conversando ainda por um tempo, trocamos telefones, mas não ficamos.
Dia seguinte, segunda, não falei com o Beto. Mas a noite, liguei pra ela. Quase uma hora no telefone que eu, juro, nem senti passar. Marcamos de sair na quinta, num lugar qualquer para dançar. Ela escolheria. E como ela gostava de rock, relaxei, pois sabia que eu iria me divertir. E até que a quinta-feira chegasse, falei com ela todos os dias. Duas vezes por dia. Mais de duas horas no telefone, por dia.
Na quinta, quando cheguei na casa dela e ela entrou no carro, foi a coisa mais natural do mundo que nos cumprimentássemos com um longo, quente, úmido e tesudo beijo.
Depois de um tempo de rolo, onde a gente se via quase todos os dias (a casa dela ficava no meio do caminho entre minha casa e meu trabalho), engatamos um namoro. E Beto compartilhou cada momento do nosso namoro com muito entusiasmo, feliz por ter acertado em relação a nós, virou um padrinho natural do casal, mesmo porque era meu melhor amigo e o melhor amigo da Julia também.
Depois de três anos de namoro, aluguei um apartamento e a Julia se mudou para lá comigo.
Seis meses se passaram desde que estávamos morando juntos, quando o Beto começou a se afastar da gente. Estava namorando, mas não era pela namorada que ele se afastava, pois o namoro deles já durava dois anos e ela era nossa amiga também. Um dia eu liguei para o Beto, que havia sumido há um tempo:
- Beto, porra, cadê você? Por que sumiu?
Ele propôs uma cerveja. Jurou que explicaria tudo. Marcamos para o mesmo dia. Mas tinha uma condição: sem a Julia. Só nós dois.
Foi logo na terceira cerveja que ele falou, seco:
- Carlão, não posso mais visitar vocês, sair com vocês. Estou apaixonado pela Julia. Desculpe, cara. Mas não pude evitar.
Não foi fácil "perder" um grande amigo como ele. Mas ele insistiu em se afastar. Eu tentei. Tentei com futebol, cerveja, bares, mulheres. Mas nada o reaproximava de mim, de nós. Nem quando a Julia ficou grávida - justamente na época em que meu relacionamento com ela mais esfriava - ele veio nos ver. Nem deu os parabéns. Muito pelo contrário, se afastou mais ainda.
Um dia, logo no primeiro mês da gravidez da Julia, ela pediu:
- Carlinho, deixe eu fumar um último baseado antes da abstinência total?
Com os dois pés atrás, deixei. Naquela noite, transávamos como há tempos não fazíamos e, na hora do chamado platô (não sabe o que é, vai procurar!), ela, louca pra gozar, grita, adivinha o quê?
Pois foi isso mesmo. A vaca gritou logo o nome dele. Broxei na hora, claro. E fiquei puto. Ela implorou perdão, disse que não tinha nada a ver, toda essa mentirada que qualquer filha da puta sabe de cor.
Então fiz o óbvio. Peguei o telefone dela, me tranquei no banheiro e liguei para o Beto.
- Oooooooi, meu amor! Quem bom que você me ligou. Já estava com saudades. Não está em casa?
- Fala, filha da puta. Não é ela. Sou eu.
O Beto ficou mudo por alguns segundos. Depois desligou.
Fiquei sem ela e sem ele. Sem a mulher e sem o amigo.
Há algum tempo atrás soube que eles se casaram, que a gravidez foi interrompida involuntariamente - aliás o filho era dele - mas estavam bem. Soube disso pela boca dela, quando a encontrei, sem querer, na rua.
E foi graças a esse encontro sem querer que hoje eu me vingo dele e dela todo dia. Dele, quando a encontro no motel. Dela, gravando os encontros. Breve, breve, ele receberá tudo isso em vídeo. E aí eu me vingarei dos dois, juntinhos.

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