Trabalho em um escritório onde ninguém conversa com ninguém. É um bando de jovens bitolados, funcionários desalmados, desestimulados. É, acima de tudo, um bando de retardados, debilóides. Não conseguem manter uma conversação decente, inteligível, com qualquer outro ser humano, nem mesmo da mesma espécie que eles.
Minha esposa sofreu aquilo que hoje chamam de AVC, mas que na época dela chamávamos de derrame cerebral. Dói. Dói fundo na alma vê-la no estado semi vegetativo em que está. Está incomunicável. Ninguém a compreende e tenho severas dúvidas sobre o quanto ela ainda compreende do mundo externo. Vive numa cama e só se movimenta através de cadeira-de-rodas.
Meus filhos mudaram-se há tempos. O mais velho se casou há três anos e foi ter com a sua senhora em algum lugar qualquer, longe dos pais, lá em Rio Grande do Sul. A mais nova mora com uma amiga, aqui em São Paulo mesmo, porém perto do Horto Florestal, há cinqüenta quilômetros de casa.
Ele, estou quase esquecendo seu rosto. Ela vem visitar a mãe a cada mês, quando muito.
É incrível dizer que eu me sinto só, se todos os dias eu sento em frente a um computador conectado na Internet. Quer dizer, estou, indiretamente, sentado em frente a seiscentos milhões de pessoas e, além de não ser capaz de me comunicar com ninguém, pois nunca aprendi direito a usar a Internet, ainda me sinto completamente só.
Alguém sabe o que é se sentir sozinho? Eu me sinto. Mas meus filhos não compreendem. Acham que por eu estar velho, ou pelo simples fato de ser bem mais velho que eles, deveria estar acostumado com o sofrimento e com a solidão. Não estou. Quem está?
Infelizmente eles aprenderão da forma mais dura, que um ser humano nunca se acostuma com a dor de ser só.
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