quinta-feira, novembro 24

Enlouquecedor


    Eu a conheci num sonho. Nesse sonho, ela surgiu do nada, ao meu lado, com aqueles olhos lindos, aquela pele macia, aquela boca tentadora e uma tatuagem linda e mágica que me deixava de pau duro. No sonho, abraçávamos e beijávamos um ao outro enquanto nadávamos num mar cuja água era sonora e nos encharcava de música.
    Todo dia de manhã, é seu beijo que me acorda. Aí eu ouço sua voz sussurrando coisas doces e meigas ao meu ouvido. Então, sinto sua língua invadir minha boca enquanto ela me afaga o cabelo com uma das mãos e, com a outra, passeia pelo meu peito e desce minha barriga até descobrir o quanto ela me excita. E ela tem as mãos mais suaves e firmes enquanto me masturba até eu tremer de prazer. Depois ela me abraça e cuida de mim, e seu sorriso me acalma e me relaxa.
    Então eu entro no banho sozinho. Quando eu saio, ela já não está mais.
    Uma enfermeira entra no quarto sorrindo e falando meu nome, simpática. Ela me dá um remédio, dizendo que é para o meu bem. Eu engulo o remédio e vou para a sala ver televisão. A sala está cheia de gente. Sou saudado por todos, que liberam uma poltrona que dizem ser reservada para mim. O remédio me deixa meio sonolento e eu me deixo levar. Cochilo por vinte ou trinta minutos. Quando acordo, descubro que, na verdade, ela nunca esteve aqui, nunca vem me visitar. No máximo fica ali do lado de fora, olhando de soslaio, espiando pela janela, enquanto eu, aqui, no meio de tanta gente louca, enlouqueço pensando nela. E é entre esses loucos, que fazem as vezes de meus amigos, que me visto com a bombacha que eu sonhei ter ganho dela e seguro a cuia vazia fingindo ter chimarrão para beber e para me esquentar.
    Ela podia entrar, fingir que se importa, trazer um cobertor, uma blusa, um pouco de erva mate e uma garrafa térmica cheia de água quente. Ou um abraço. Qualquer coisa que me esquentasse. Mas, bah!, ela não vem. E eu sigo aqui, jogado, sozinho, olhando fixamente para a porta, que nunca se abre. Sigo na expectativa dela chegar, dela entrar; na esperança de sua visita. Mas ela nunca vem, e isso me enlouquece.

quarta-feira, novembro 23

Você é o favorito de alguém?

Uma pausa nos texto para um curta fenomenal (o vídeo tem o áudio todo em inglês e eu não vou colocar legenda por preguiça, portanto, clique caso seu entendimento na língua britânica seja bom).



(via: uma pessoa muito especial)

terça-feira, novembro 22

Mendicância


    Cerveja. Eu deveria, agora, estar tomando uma garrafa de cerveja. Gelada ou não, foda-se. Ou um destilado qualquer. Qualquer. É o álcool que me importa. É meu remédio, eu sei. É ele quem me separa da mais completa loucura, que me tira da realidade, porque, convenhamos, na realidade ninguém consegue viver. Ou consegue? Sou só eu, então? Tudo bem, sou só eu então. Foda-se. Que me julguem, que me excluam de suas vidas de merda, que se fodam. Apenas não me tirem o álcool. Não. Eu preciso dele. Preciso disso, tanto quanto esse povo imbecil precisa do futebol, do carnaval ou da merda do samba.
    É por isso que saí daí de onde você está, de onde você vive, de onde você mora; porque não tem álcool, porque não tem vida, porque não tem nada.
    Ou então que me internem logo de uma vez em uma instituição qualquer para loucos e me dopem, me injetem algo nas veias que me retarde as ideias. Ou me amputem o cérebro, lobotomizem-me, façam algo que o valha, algo que preste, que sirva para algo. E me julguem, apontem o dedo, estou aqui para isso. Sou a escoria mesmo e sei que sou. E gosto de ser. E convivo bem sendo a escória. Sou seu mártir, seu exemplo negativo, sou tudo aquilo que você não pode ser e estou aqui para lhe lembrar o que você seria se você não se controlasse, se não tomasse seus remédios, se não fosse ao seu showzinho de MPB de merda. Estou aqui, sou o Cristo do novo milênio  Sou sua salvação, torta, errada e prostituída. Sou todas as mazelas que você quiser que eu seja, desde que me sirvam mais uma dose, e aí estaremos bem.
    Deixe-me que me embriague mais uma vez, outra vez e sem parar. Que meu fígado se apodreça e sangre-me todo por dentro. Foda-se.
    Não precisa nem mesmo me dizer seu nome. Não o quero saber. Não quero sua compaixão, sua dó, seu carinho. Engula sua necessidade de cuidar dos outros, de cuidar de mim. Enfie seu altruísmo esfíncter adentro até que ele saia em sua garganta. Vomite tudo. Vomite-me.
    Eu te odeio, seu filho da puta. Eu te odeio.

sexta-feira, novembro 18

Imortal


    Ele tinha apenas 17 anos quando se casou. Encontrara Rita, a mulher de sua vida, que tinha dois anos a mais que o dobro de sua idade e era completamente desprovida de beleza, de inteligência, de humor e de senso de ridículo. Mas era rica. Milionária, até, era filha única de um magnata dono de duas grandes empresas de importação e distribuição. Além do emprego garantido na diretoria da empresa, o pacote pós-núpcias incluía uma cobertura em um bairro nobre da cidade e um carro, qualquer um que ele escolhesse, até mesmo o qual sempre sonhou em ter.
    Insegura, ciumenta, possesiva, controladora e destemperada, Rita, que explodia em gritaria a qualquer chateação por qual passasse, vigiava todos os passos do infeliz, que nunca teve a menor chance de se divertir com amigos ou com outra mulher. Para piorar, o passatempo preferido dela era humilhá-lo em público, numa clara demonstração de que o tinha em mãos. Ele era seu brinquedinho.
    A verdade é que ele tinha asco dela, mas era consciente que qualquer esforço valeria a pena para manter o nível de vida que conquistara e, por isso, ao chegar em seu lar, todos os dias após o duro dia de trabalho, ele a amava louca e doentiamente. E, assim, tiveram três filhos.
    Os anos se passaram enquanto ela engordava a base de muito pão, bolo, doces e chocolates. E conforme engordava, mais insegura, ciumenta, possesiva, controladora e destemperada Rita ficava. E cada vez mais humilhava seu marido, que paulatinamente ia se transformava em um poço de rancor, frustação e ódio, prestes a explodir a qualquer momento.
    No último dia do ano em que o caçula se formou em medicina neurológica, o pai de Rita faleceu, deixando o controle total das empresas para seu único e competente genro, afinal este fora o responsável por um crescimento nunca antes imaginado. Ele passou então a trabalhar até mais tarde, um pouco por ganância e dedicação, mas, principalmente, por que assim ganhava uma desculpa válida para fugir daquele monstro  com quem se casara e que algum imbecil, um dia, chamou de mulher. Sem a presença do sogro, ganhava um pouco mais de liberdade. Viagens, reuniões e uma série de eventos corporativos, todos inventados.
    Dinheiro, rancor, frustação ganhavam a companhia de muito poder e um novo senso de liberdade. Ele descobriu a vida noturna, o uísque, a cocaína e as putas.
    Ah, as putas. Santas, todas. Mulheres maltratadas pela vida, pela sociedade ou por clientes. Lindas, jovens e gostosas. Nunca fora tão bem tratado por uma mulher.
    Mas alguma coisa começou a dar errado.
    Ele não sabe precisar exatamente quando, como e nem com quem tudo começou. Estava com uma puta qualquer, amarrada na cama, quando algo, não sabe ao certo o que, o fez ver, no rosto da jovem e linda puta, Rita. Completamente transtornado, tomado por um descontrole nunca antes experimentado, sentou a mão na coitada, que mal reagiu. Quando ele finalmente voltou a si, o pescoço dela estava marcado, os olhos arregalados e o coração parado. Matara a puta. Um misto de susto, desespero e prazer tomara conta dele. Excedia os limites do controle. O poder sobre a vida de uma pessoa. O poder.
    Seu dinheiro e seus empregados trataram de arrumar tudo e qualquer vestígio fora apagado.
 
    Algumas semanas se passaram até que ele conseguisse sair com outra puta. Estava com medo. Mas, quando voltou a sair com uma, aconteceu novamente. Outra morte. Outra descarga de adrenalina. Outra vez, prazer e poder. E, dessa vez, sem medo, sem sustos. Gostou.
    Ele, então, passou a percorrer o Estado e a matar uma puta por semana, uma em cada cidade diferente. Encontrara a felicidade. Criara um hobby.
    Não odeia as mulheres. Muito menos as putas. Pelo contrário, ama todas, incondicionalmente. Menos uma, Rita. Esta, ele odeia. Mortalmente.
    É Rita quem ele vê no rosto de todas as putas que mata, semana após semana. O problema é que ela continua viva.

quarta-feira, novembro 16

Em perfeição

    Acordei com dificuldade para abrir os olhos, não pela luz, mas pelo peso que latejava e reverberava em minha cabeça. No corpo, aquela camiseta branca, com uma imagem abstrata, que vesti logo após meu último banho, três dias antes, e onde ainda repousa o perfume dela. Mais que seu perfume, é seu cheiro que me interrompe o pensar. Seu cheiro e seu gosto ocre adocicado do qual sou viciado. Respiro fundo e deixo ela me invadir.
    Levanto. Sobre a mesa da sala, uma xícara, onde ainda há café, gelado. Foda-se. Mergulho duas aspirinas dentro e vou para a janela fumar. No prédio em frente, dois andares abaixo do meu, eu consigo vê-la saindo do banho, toalha enrolada no corpo e cabelo molhado. Deus, como ela é gostosa! Sinto meu fluxo sanguíneo se concentrar em seu maior objeto de adoração. Preciso tomar um banho, colocar uma roupa limpa, fazer a barba e ir vê-la. Ela deve ter chegado de viagem há pouco e não me avisou justamente por imaginar que eu estivesse dormindo. Ela some quarto adentro. Ela sempre some.
    Quando volta, com o sutiã amarelo que lhe dei e um short preto colado ao corpo, ela para em frente ao grande espelho, onde só enxerga seus defeitos e sente todas as imperfeições do mundo lhe estapeando violentamente o corpo. Passa a mão por onde acha que sobra carne ou qualquer outra coisa inominável. Um pouco mais para baixo, também tem algo a mais, demais. De repente, ela  olha para onde acha que falta o que ela mais queria ter e suspira por não poder transferir um pouco do que sobre aqui para onde falta ali.
E então ela acha que deveria ser mais alta, ou mais baixa, não lembro. Respira fundo. Está cansada. É solteira e tem convicção de que o motivo da solteirice é justamente aquilo que o espelho lhe grita. Esquece que eu seria seu capacho com um simples estalar dos dedos.
Ela gira sobre o calcanhar, vai até sua velha vitrola, coloca um vinil de alguma banda de rock dos anos setenta e se deixa cair ao sofá. Seu telefone toca. Sou eu.
- Chegou? Quando? Sei... Nada... Sim, vou! Só vou tomar um banho e comer algo... Claro! Você é linda.
Ligo o computador e coloco a Piaf para cantar.
No banheiro, ligo o chuveiro e, enquanto espero a água esquentar, faço a barba. Pelo espelho, vejo minhas olheiras, minhas rugas e meus cabelos brancos. Estou envelhecendo rápido, mas continuo bonito. Foda-se.
Meus olhos, os olhos dela. Ah, os olhos dela, que aproximam a humanidade inteira a Deus. E sua boca, que relaxa, acalma e me transporta a alguma dimensão onde somente lá eu consigo flutuar até ela me sussurrar qualquer coisa no ouvido, me amputando as pernas para eu não mais conseguir sair do seu lado. Aí ela me abraça, reconfortando-me, e pelo seu toque sou banhado por algum entorpecente alucinógeno no qual me afogo. Sem ar, sinto o sapatear dela sobre meus pulmões. Sapateia com um salto agulha.
Ela sequestrou meu coração e o enterrou atrás de uma árvore cheia de cupins, e segura meu cérebro com suas mãos pequeninas e delicadas. Sua boca então envolve meu pau por completo e eu volto à vida, revigorado.
    Nada nesse mundo poderia ser mais sublime, lindo e delicioso que seu toque, seu olhar, sua presença, seu estar ou seu ser.
    Ela é um sonho, mas é real. Ela me esgota. Ela me preenche.
    Dentro de poucos minutos, eu a possuirei como nunca possuí outra coisa. Mas ela não é minha. Nunca será.

Uma frase

Ela foi embora e deixou em mim essa saudade do choro.

sexta-feira, novembro 11

Ela

Uma homenagem a várias amigas minhas.


Ela

    Um grito agudo e estridente a acordou. Assustada, mal abriu os olhos e já estava de pé, num pulo, sem pensar, e foi correndo ao quarto da filha - coisas que só uma mãe entende. Sua pequena dormia tranquilamente. Ah, ótimo, que alívio, está tudo bem. Mas, quem gritou? Sua filha sonhara? Ela própria sonhara?
    Voltou para o quarto, onde seu marido dormia, tranquilo, seu sono pesado. Olhou para o relógio, que mal passara da primeira hora do dia. Incrível como seu marido nunca acordava, por nada, para nada. Nem quando a sua filha era ainda um bebê e dormia na cama com eles, o infeliz não acordava. Sempre foi assim. Sempre era ela quem tinha que acordar de madrugada para preparar mamadeira, para trocar fralda ou para socorrer a filha qualquer que fosse o problema. Sempre ela que preparava jantar, almoço e lavava a louça. Fazia tudo. Só ela. Sempre. Ele nunca fazia nada. Nunca ajudava em nada. Inútil! Por que ela ainda estava casada com ele? Nem ela sabia ao certo.
    Perdeu sono.
    Decidiu ir para a sala, fumar um cigarro e tentar relaxar - fumar faz bem. No corredor, escuro, chutou um brinquedo e fez um barulho tão alto que o vizinho de baixo poderia ter acordado, mas, por sorte, a filha puxara ao pai e também não acordava fácil. Fechou os olhos, de raiva. Respirou fundo. Realmente, precisa de um cigarro. Pegou o maço e foi para o lado da janela, onde se debruçou. Adorava fumar ali, vendo a noite daquela rua agitada onde morava. Adorava morar ali, perto de tantos bares legais. Talvez por isso ainda estivesse casada, para não ter que mudar dali. Acendeu o cigarro. Era o último do maço, merda. Ía ter que descer para comprar mais pois, numa hora dessas, vai que um cigarro seja pouco? Terminou de fumar vendo os carros passarem, as pessoas que entravam e saiam dos barres, riam, conversavam, fumavam, bebiam e se divertiam. Ah, como é bom ser jovem, solteiro e sem preocupação.
    Apagou o cigarro e voltou para o quarto. Colocou um short jeans qualquer, um chinelo de dedo e, por cima da regata branca que usava, uma camiseta, também branca, com gola em “V”, do Velvet Underground. Passou no banheiro, arrumou o cabelo de qualquer jeito, preso mesmo, mais fácil, passou lápis, batom e perfume porque, né?, vai descer na rua que está agitada, cheia de gente bonita, jovem, arrumada e ela não podia fazer feio.
    Chegando lá embaixo, o porteiro dormia sentado, debruçado sobre a mesa, como sempre. Só ela, naquele prédio, não tinha o sono pesado? Passou pela porta do prédio. O bar onde costumava comprar seus cigarros, um bar velho, simples, para quem gosta de cerveja e não da badalação, era vizinho do prédio, à direita e fechava tarde. Por isso, rumou à esquerda. Seria bom passear um pouco.
    Passou por três quarteirões e, no caminho, por duas vezes, alguém mexeu com ela. Dois homens, cada um e um bar diferente. Bonitos, até. Quer dizer, ah, não podia exigir muito. E mexeram! Não estava tão mal, afinal. Nem tão velha. Mas ela os ignorou. Era casada e nunca fora dessas mulheres que traem. Ao final do terceiro quarteirão, atravessou a rua e voltou pela calçada oposta. Só queria ver um pouco do movimento. Nada demais.
    Entrou no velho bar vizinho ao prédio, pediu um cigarro e uma latinha de cerveja, e se sentou ao balcão. Logo no primeiro gole, tão bom, tão gelado, tão reconfortante, ela sentiu-se arrepiar. Sorriu. Percebeu que precisava de um cigarro.
    Saiu à rua com a lata de cerveja na mão. Acendeu um cigarro e decidiu dar mais uma volta.
    No final do quarteirão ficava o bar onde o primeiro dos fulanos tinha mexido com ela. De relance, parecera bonito. Não custava nada passar em frente ao bar mais uma vez, para vê-lo melhor. Sim, ele ainda estava lá, sentado, dentro do bar com alguns amigos. Seus olhares se cruzaram. Ela ficou vermelha, olhou de lado e resolveu voltar para casa. Quase em frente ao prédio sentiu alguém a segurar pela cintura.
    “Não precisa fugir. Não mordo. Não sempre.”
    Surpresa, ela sorriu.
    “Como você se chama?”, ele perguntou.
    Ela se virou para ele e devolveu a pergunta.
    “Qual é o seu nome?”
    “Carlos.”
     “Carlos, se você não morde, o que você quer exatamente?”
    Ela foi enfática e direta, o que o desconcertou.
    “Olha, eu sou casada, tenho uma filha de quatro anos, moro aqui do lado, e da janela do meu quarto, onde meu marido está dormindo, dá para esse bar. Não sou dessas. Não traio meu marido. Nunca traí, nunca trairei”, disse um pouco alterada.
    “Você é linda.”
    “Não. Eu estava dormindo até quinze minutos atrás. Estou toda amassada.”
    Ele a puxou pela cintura e colou o corpo dela no dele. Ela tomou um susto, mas antes que ela falasse alguma coisa, ele a beijou.
    “Você é louco? Tá pensando o quê? Eu sou casada.”
    Ele a beijou de novo. Dessa vez ela se desvencilhou dele.
    “Não. Para. Sério. Olha, eu moro ali”, apontou a janela de sua sala. “Assim não. Não posso. Meu marido pode acordar e aparecer ali e me ver...”
    Ele a beijou mais uma vez. Dessa vez, deu-se por vencida. Mesmo porque, além do beijo de Carlos ser delicioso, o inútil do seu marido não acordaria nem se duas pessoas estivessem transando na mesma cama que ele.
    “Carlos, espera. Aqui, não. Alguém pode ver.”
    “Vamos para o bar.”
    “Eu moro aqui. Todo mundo me conhece, conhece meu marido. Não.”
    “Então... Onde?”
    “Carlos, você é um homem destemido?”
    “Você não faz idéia.”
    “Então vem comigo.”
    Ela o pegou pela mão e o puxou. Pararam em frente ao prédio. A adrenalina a lavou. Tentou enxergar o porteiro através do vidro, mas a película escura deixava muito escuro dentro do prédio.
    “Espere aqui um pouco.”
    Com cuidado, abriu a porta de vidro. Um ronco reverberou pelo saguão: o porteiro ainda dormia. Com um gesto, chamou Carlos para entrar.
    “Silêncio, agora.”
    Com todo cuidado necessário, delicadamente, chegaram até o elevador. Carlos não estava entendendo direito o que acontecia, mas entrou no jogo.
    “Onde a gente está indo?”
    Ela sorriu.
    “Calma. Você vai gostar, tenho certeza.”
    Chegaram ao andar dela. A luz do corredor se acendeu enquanto a porta do elevador se fechava atrás deles. Ela deu um rápido beijo nos lábios dele, tirou a chave do bolso e encaixou na porta.
    “Com todo cuidado agora, ok?”
    Ele assentiu em silêncio.
    Ela entrou em casa seguida por Carlos. Calmamente, fechou a porta. Carlos estava parado, um pouco assustado, conforme seus olhos demonstravam. Ela o levou até a cozinha e encostou a porta que a separa da sala. Sentia o coração na boca. O medo deixa tudo mais gostoso.
    “Eu moro aqui. Meu marido tem o sono pesado, não acorda nunca, para nada.”
    Ele sorriu e a agarrou.
    “Agora sou toda sua. Você tem camisinha?”
    Sorriram.

terça-feira, novembro 8

Namorados


Ela saiu do bar, que já estava quase vazio, e se sentou no meio fio da calçada em frente, quase na esquina. A essa hora da madrugada, foda-se que estava de saia. O estômago não estava legal. Precisava de um ar. Precisava fumar. Jogou o cabelo para o lado com um movimento de cabeça e tirou o maço do bolso. O primeiro trago foi com os olhos fechados. Ioga para quê? Sentiu alguém se aproximar. Ela não precisava olhar para saber quem era.
“Posso sentar do seu lado?”
Pedro trazia dois copos. Ela não respondeu.
“Você esqueceu seu mojito”, disse ao se sentar.
Ana agradeceu com um sorriso e encostou a cabeça no ombro de seu melhor amigo.
Pedro e Ana se conheciam há cinco anos e, desde o começo da amizade, era nítido que Pedro se apaixonara por ela. Não o disfarçava. Nem tentava. Estava sempre por perto, sempre à mão. Ele se fazia de motorista, de terapeuta, de confidente, pagava algumas contas de bares, emprestava dinheiro que nunca cobrava e dava presentinhos sem data específica. Mas não, não rolava. Era feio, desajeitado, baixo, magrelo, tímido, inseguro e omisso. Tanto que, em cinco anos, nunca tomara atitude alguma, nunca tentara nada. Ela achava isso triste, verdade, mas aproveitava, afinal seu ego adorava a situação.
A sorte dele, porém, poderia ter mudado naquela noite. Ana estava vulnerável e carente. Tinha duas semanas que terminara o terceiro namoro do ano. E era março ainda. Por isso, naquela noite, no bar, decidiu se embebedar, afogar o mundo em seis copos de mojito. E a partir daí, começou a acreditar que podia ser o Pedro. Tinha que ser ele.
 “Estou passando meio mal. Acho que bebi demais.”
“Quer uma água? Uma Coca-Cola?”
“Não, eu preciso ir embora. Mas ‘tô bêbada. Você me leva?”, perguntou tendo a certeza que Pedro não a decepcionaria.
“Claro, Ana. Mas, como a gente faz? Eu estou de carro, você está de carro.”
A falta de malícia e a burrice dele a irritavam de vez em quando. Mas tudo bem. Sem problema. Ela aguenta isso. Ela consegue conviver com isso. Oras, viveu já cinco anos com ele como amigo, não?
“Ah, eu deixo meu carro aqui. Amanhã eu pego.”
“Mas vai largar na rua?”
“Está num estacionamento. Não tem problema.”
“Bom, se você ‘tá falando...”
Levantaram, Ana com a ajuda dele, pagaram a conta e rumaram para a casa dela.
“Pronto, está entregue”, disse, acordando Ana. O Sol já nascia.
“Nossa, já?”
“Você dormiu.”
“É.”
Ficaram em silêncio. Ele esperava o tchau definitivo, talvez não soubesse o que falar. Ela alguma fala, alguma ação, qualquer coisa que não vinha, que não veio. Deus!, será que ele não percebe que hoje não, que hoje é para ele subir?
“Bom, então, obrigada. Vou tentar preparar um chá para mim, para ver se melhoro. Ai, será que consigo subir as escadas?”, disse rindo de si mesma. Atuava. Não que não estivesse bêbada. Estava, mas nem tanto.
“Se você quiser... Não me entenda mal, mas se você quiser eu te ajudo.”
“Ai, Pedro, eu te amo. Você ajuda mesmo?”
“Claro”.
Subiram os três andares do pequeno prédio. Ana se apoiava nele.
Entraram no apartamento, ela correu para o banheiro enquanto ele colocava a água para ferver. Ana precisava fazer xixi, precisava colocar algo mais confortável.
“O chá está pronto, Ana!”, gritou ele.
Ela surge de dentro do quarto vestindo apenas uma grande e larga camiseta cinza. Retocara o batom. A luz do Sol, que nascia, entrava e a iluminava de forma diferente. Estava verdadeiramente linda. Ela sabia. Pedro, apesar de olhar descrente do que via, apenas serviu duas xícaras de chá.
Sentaram-se ao sofá, um do lado do outro. Ela encostou a cabeça no ombro dele mais uma vez e jogou um das pernas sobre as pernas dele. Pedro a abraçou pelo ombro.
Só pode ser ele. Tem que ser ele. Não importa que ele seja feio, não importa que não haja paixão. Ele a ama e ela o domina, isso basta.
Enquanto tentava se convencer, adormeceu.
Acordou deitada na cama. Coberta. Ainda vestida. Ainda de calcinha. E sozinha no apartamento.

domingo, novembro 6

Por pouco


A padaria ficava há algumas quadras de sua casa. Era uma caminhada que ele adorava fazer, principalmente aos finais de semana, pela manhã. As ruas do bairro, arborizadas, tinham vida, paixão, e era bucólica, ao mesmo tempo.
Como de costume, naquela sábado, acordou cedo – ou mal dormira – e passou quase uma hora conversando não só com o porteiro do prédio, mas com todos os vizinhos que passassem por ali. Já na rua, cumprimentava a todos, sorrindo, e conversou amigavelmente com os funcionários da padaria, onde tomou seu café preto com um pão na chapa bem torrado e comprou um maço de cigarros.
No caminho de volta, sentou no banco da praça que fica atrás do prédio em que mora há tantos anos que não lembra mais. Ficou ali o resto da manhã, olhando as crianças brincarem, correrem e pularem. Ser criança, com o brilho único no olhar e sorriso no corpo inteiro, é a liberdade de ser como e quando quiser, sem saber que lhe julgam e não ter saudades.
Ele se mudara para aquele bairro, para aquele prédio, aos trinta e quatro anos de idade, logo que se separou de Vânia. Fazia, então, quarenta e sete anos que morava ali, que morava sozinho, que vivia sozinho. Não fora solitário, porém. Primeiro eram seus três filhos que vinham um final de semana sim, outro não. E tinham os feriados, as férias, as visitas de amigos e amigas, as putas que ele sempre chamava e os casos que teve com as esposas de maridos burros e cegos. Depois vieram os netos. Eram sete. Estes vinham sempre, todos os finais de semana, quando não um, outro. De um modo geral, a vida sempre foi agitada. De dia, pelo menos. À noite, cabeça no travesseiro, o vazio da cama berrava estridente, cuspia em sua cara e pisava em seu peito. Às vezes, mãos pesadas e traiçoeiras, invisíveis, lhe apertavam forte o pescoço, lhe sufocavam. Mas ele sobrevivia.
Depois que se separou de Vânia, mulher que o manipulou por nove anos, de quem foi vitima de sequestros e abusos emocionais, perdeu a capacidade de amar apaixonadamente. Talvez nem tanto fosse a solidão noturna que lhe queimava, mas a falta de viver aquele fervor, aquela ânsia. Por isso sentia o coração ofegante, quase morto, por tanto tempo, o que lhe matou a criança que tinha dentro de si.
Assim, adquiriu o hábito e, todo final de semana, parava naquela praça. Era querido pelos pais e pelas mães. Era o avô de todas as crianças. Dentro de sua limitação física – desde que quebrou o fêmur, num acidente de moto, nunca mais foi o mesmo – provocava e brincava com as crianças. Vez ou outra, um pai ou uma mãe, ou uma babá, sentava-se ao seu lado e ficavam conversando sobre amenidades, fumando ou apenas lendo os jornais e comentando suas notícias.
Naquele sábado, o Sol ardido, mais uma vez não viu as horas passarem. Foi uma manhã boa, animada, como costumavam ser sempre os seus dias. Mas chegava a hora do almoço. Pais precisavam preparar o almoço e crianças precisavam almoçar. A praça esvaziava e, com ela, seu coração. E quanto mais vazio ficava, mais difícil era respirar. Luana, morena ancuda, olhos verdes, peituda e mãe de três, perguntou se queria que o acompanhasse até em casa. Um doce de mulher. Não, estava tudo bem. Sorriram. Despediram-se. Ele ficou ali, sentado, olhando o doce rebolar de Luana até ela desaparecer de vista. Deteve mais alguns minutos, enquanto  fumava mais um cigarro. Procurava forças.
Quando se levantou, sentiu uma leve tontura seguida de um agudo, surdo e intenso fisgar no peito. Caiu.
Ao retomar a consciência e abrir os olhos, a vista doeu, ardeu. Tudo claro, claro demais: teto branco demais e iluminado demais.
“Pai?”
Seu caçula lhe chamava.
Tivera um ataque cardíaco. Sorte que, no exato momento da queda, algum vizinho chegava na praça, caminhava em direção dele, para lhe cumprimentar.
Ficara três semanas desacordado. Todos, filhos, netos, sobrinhos, primos e vizinhos, aflitos e desesperados de preocupação. Mas agora, tudo bem. Ele acordou.
Um médico entrou e explicou os pormenores. Sobrevivera, foi por pouco, mas não foi dessa vez que morreu.
Uma lágrima se soltou de seus olhos. Ele respirou fundo.
Resignou-se.

sábado, novembro 5

Final de semana


Ainda estava escuro naquele sábado quando ele finalmente chegou ao calçadão. Olhava para o mar pela primeira vez depois de mais de vinte anos. Nem o bom comportamento o salvou. Lembrou-se dos filhos, com quem costumava ir à praia todo final de semana, mas cuja vida o destinou tomou, há dez anos. O coração estava paralisado. O ar, rarefeito.
Tirou os sapatos e os colocou, cuidadosamente, junto a uma árvore. Dobrou a calça jeans, velha, até os joelhos. Tirou a camisa para melhor sentir o vento, ainda não aquecido pelo Sol, envolver seu peito. Com muita ansiedade e medo, vagarosamente, deixou os dedos de um dos pés tocarem a areia fria. Um raio percorreu sua espinha. Plantou o pé. Um orgasmo lhe atingiu. Trouxe o outro pé para junto desse. Fechou os olhos. Era só sentimento.
Ficou ali, parado, por quase trinta minutos. Só sentindo. Era mais de vinte anos, afinal.
Quando abriu os olhos, o céu já começava a clarear. Olhou em volta. Algumas pessoas passavam pelo calçadão, daqui para ali, de lá para cá. Na areia, mesmo, ninguém ainda. Foi andando em direção ao mar.
Quando sentiu a areia molhada, deteve-se. Olhou para o pé, que afundava um pouco. Sorriu. Olhou de novo para o mar. Dentro de seu peito, todos os cavalos do mundo corriam freneticamente.
Um final de onda chegou para lhe saudar, beijando delicadamente seus pés. Gelado.
Em um rompante inesperado, correu para a água. Deu um mergulho que lavava anos e anos de dor. Emergiu com a água na altura da cintura. Mergulhou de novo. Brincava, como uma criança. Gargalhava.
O Sol, então, resolveu aparecer. Ele deixou o corpo afundar até ficar com água na altura do pescoço. Boiava. Ah, boiava. Que sensação. Livre. Leve. Como não lembrava ser possível ser. Sentiu uma lágrima quente lhe escorrer o rosto.
Quase uma hora depois, saiu da água. Andava pela areia arrastando o pé, brincando, deixando rastros. Sentou-se na areia e ficou assistindo o cenário, as pessoas, tudo. Respirou fundo e jogou o corpo para trás, deitando. Cruzou as mãos atrás da cabeça e olhou o céu.
De repente, sem perceber, sem sentir, finalmente, adormeceu. 

sexta-feira, novembro 4

Mais uma Sexta-Feira


O relógio bate vinte horas e ela ainda está no escritório. Sozinha. Afundada no trabalho, relatórios para examinar e prazos para cumprir, não viu as horas passarem. É sexta-feira e todos saíram mais cedo nessa noite, menos ela. Todo mundo tinham alguma coisa pra fazer. Menos ela. Respira fundo. É hora de ir embora.
Sem arrumar nada da papelada sobre sua mesa, fecha o escritório e liga o alarme. No carro, coloca um CD dos Ramones e sai dirigindo pela cidade chuvosa, sem rumo e sem direção, até parar em um supermercado qualquer, onde compra seis garrafinhas de alguma Ice, sem prestar atenção na marca.
De volta ao carro, a chuva aperta. Sem sair do estacionamento, acende um cigarro e abre uma das garrafinhas. Não abre os vidros para não molhar o carro; para não se molhar. As cinzas vão caindo sobre sua minissaia preta, ou no banco com alguns buracos feitos por uma ou outra brasa de cigarro, ou no chão do carro. Espera terminar a garrafa para ligar o carro e voltar à rua. Durante o caminho fuma um cigarro atrás do outro enquanto bebe sua Ice. Não para de dirigir. Ela gosta. Relaxa.
A noite cai e o trânsito começa a ficar mais e mais intenso quando ela abre a última garrafinha da bebida, que já está sem gelo. A falta de companhia começa a latejar. Pensa em ligar para os amigos e amigas a procura de alguém que ela pudesse ligar para lhe fazer alguma companhia, mas lhe falta coragem.
Para o carro em frente a um boteco qualquer, sujo e escuro. Escroto. Dentro, só tem bêbados velhos. Ela fecha os olhos e respira fundo. Procura coragem que as seis garrafas de bebida ainda não lhe deram. Ajeita a maquiagem, tira o sutiã e abre os dois primeiros botões da camisa branca. Abaixa a cabeça e reza. Fica parada por quase vinte minutos. Liga o carro e dá a volta no quarteirão. A chuva aperta. Está frio lá fora, e ela sabe. Estaciona o carro na rua de trás do bar. Do espelho retrovisor, retira o mini terço e o aperta contra a mão. Reza mais uma vez. Devolve o terço ao retrovisor e solta um grito libertador. Desce do carro e sai correndo, deixando a chuva lhe lavar. A camiseta ganha certa transparência. Ela sente muito frio.
Entra no bar. O cabelo pinga. Todos param de conversar e olham para ela. Ela travessa o bar enquanto é devorada pelos olhos de todos os bêbados dali. Pede uma dose de pinga e espera. Não tardará e algum velho imundo, fedido e porco chegará até ela falando uma gracinha qualquer e ela o levará para o banheiro nojento.
Alguma coisa tem que dar certo para ela.

terça-feira, novembro 1

Rotina

Ela acorda cinco minutos antes de abrir os olhos, procurando algum motivo para não ficar na cama o resto da manhã. Respira fundo quando só descobre obrigações de uma vida adulta fracassada. E tem contas a pagar.
Levanta da cama. Calmamente dá uma volta na cama, gira pelo quarto. O despertar vem devagar. Vai a até a janela, mas não abre as cortinas – ainda está escuro lá fora de qualquer jeito.
No banheiro, sente o chão gelado com a sola dos pés e volta atrás de seu chinelo. Liga o chuveiro e espera a água esquentar um pouco antes de entrar box adentro. Em trinta minutos, o vapor se solidifica nas paredes e embaça o espelho. Ela desliga o chuveiro e se enxuga, delicadamente.
De volta ao quarto, sentada sobre a cama, passa cuidadosamente os devidos cremes por todo seu corpo. Perfuma-se. Lingeries confortáveis e viva a humanidade que não lhe dá a devida atenção, que não lhe quer comer!
Não tem tempo ou ânimo para o café da manhã que tomaria nem se morasse em um hotel três estrelas. Dois biscoitos água e sal e uma maçã lhe forram o estômago. Levando a mochila com o velho notebook e sua bolsa, desce até o carro.
As ruas ainda estão acordando. Ela nem lembra de ligar o rádio; segue em silêncio.
Em vinte e alguns minutos, já com todas as ruas despertas, ela chega ao escritório. Na subida até a sala, serve-se de um grande copo com café. Vai direto para a cobertura do prédio fumar seu primeiro cigarro do dia. Ainda não tem ninguém ali.
Quando senta em sua mesa, abre o computador, procura por e-mails. Hoje é sexta-feira e ela procura alguma coisa que lhe tire da dura rotina do abandono e da solidão que lhe aplaca em quase todos os finais de semana. Sozinha não sai, não consegue. Escolhe três ou quatro programas culturais pinçados de um dos jornais e envia e-mail para seus contatos convidando a todos. Alguém tem que ceder: ou aceita a sua sugestão ou a convida para o tal do outro programa que todos sempre tem para fazer.
Perto da hora do almoço, toda sua lista de contatos respondeu seu e-mail. Ninguém vai, é o que dizem. Em nada. E vão fazer o quê? Cadê o convite que lhe tire de casa?
Não vem. Não tem. Não existe.
Hoje é sexta-feira e ela vai passar o final de semana inteiro sozinha.
Hoje é sexta-feira. Mas, Deus!, bem que podia ser segunda.

Uma fala

- Alguém aí a fim de dividir um cigarro?

(Sem título)


Mil e mais mil. Milhares de vozes gritando freneticamente. Não param. Não cansam. Uma sinfonia difusa, estridente e sufocante. Agonia em forma de sons. É a loucura que lhe estende os braços e esfrega todas as infinitas mãos por todo seu corpo, que lhe rouba a razão, que lhe capa a alma. Não, nem mais o álcool lhe ameniza. Nada amortece. Não existe anestésico.
Exausto, sai às ruas. Procura algo, mas não sabe o que. A chuva não lava a alma. E agora? Para onde ir? Qual o caminho? Existe alguma direção? Está na rua de casa. Está perdido. Quer voltar, não sabe para onde, não sabe para quando.
Como se faz para surtar de vez? Calariam as vozes?
Alguém sabe as respostas, ele não sabe quem.

Voltei

Porque ninguém deve nada pra ninguém. Foda-se.